terça-feira, 16 de agosto de 2011

Reforma do Maracanã cumpre regras de sustentabilidade para a Fifa homologar estádios que vão sediar a Copa de 2014

Máquinas trabalham a pleno vapor na reforma do Maracanã,
que também receberá as cerimônias de abertura e de
encerramento das Olimpíadas.


Palco de partidas que fizeram história no futebol brasileiro, o sessentão Maracanã, que receberá as cerimônias de abertura e encerramento das Olimpíadas, está sendo reformado seguindo regras de sustentabilidade, já durante as obras. A certificação provando que o estádio atendeu a todas as exigências do caderno de encargos da Fifa será emitida já para a Copa do Mundo de 2014, quando o estádio receberá partidas, inclusive a final do evento. A entidade internacional quer promover no Brasil, pela primeira vez, um "evento verde" e condicionou a homologação dos 12 estádios brasileiros obtenção dessa certificação.

 

A Fifa ofereceu quatro opções entre os certificados emitidos pela United States Green Building Council (USGBC), entidade americana dedicada à construção sustentável que atua em 115 países. Para ter o documento, os estádios devem marcar pelo menos 40 de um total de 110 pontos, distribuídos em sete categorias: espaço sustentável; uso racional da água; energia e atmosfera; materiais e recursos; qualidade ambiental interna; inovação e processo do projeto. Os graus para homologação de projetos são os seguintes: certified, silver, gold e platintun.


O tema começou a ser tratado pela Fifa em 2009, mas só foi oficializado em março deste ano quando a entidade divulgou seu caderno de encargos. O documento indicou qual a entidade que emitiria a certificação. Até então, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que lançou uma linha de financiamento de projetos, só exigia que os estádios conseguissem uma certificação sem indicar de que entidade.

 
"O caderno de encargos ofereceu opções. Nós escolhemos o modelo mais simples (o certified) devido aos custos de implantação e também porque esse é um processo que está começando a ser implantado no Brasil. Não tínhamos parâmetros para seguir em arenas esportivas. E hoje, no estado, só temos duas obras candidatas a obter a certificação: o próprio Maracanã e a biblioteca pública do estado, que está sendo reformada", explicou Ícaro Moreno Junior, presidente da Empresa estadual de Obras Públicas (Emop). "De qualquer forma já é um grande avanço na economia de recursos naturais. Nossa meta é economizar 20% do consumo de água e 5% do consumo de energia".

 
As exigências ambientais constaram do edital de licitação realizado entre julho e agosto do ano passado, que escolheu o consórcio responsável pelas obras. O grupo vencedor contratou um arquiteto especializado em projetos sustentáveis para monitorar o andamento das obras. A preocupação em ser sustentável está nos detalhes: sete reservatórios serão construídos para captar as águas das chuvas e utilizá-las na lavagem de sanitários e na irrigação do gramado. Segundo a Emop, no caso do gramado, será implantada uma drenagem superficial. A água que não for absorvida voltará para as cisternas a fim de ser reaproveitada.

 


Estudos pluviométricos indicam que esse sistema será autossuficiente durante dez meses do ano. As exceções são em julho e agosto, meses de inverno, quando os índices de precipitação ficam abaixo da média.


Já nos banheiros, um sistema eletrônico controlara a saída da água tratada de chuveiros e torneiras, para evitar o desperdício. Novos equipamentos de refrigeração e um circuito interno de TV também foram projetados para economizar energia. A rede elétrica foi planejada para receber lâmpadas led, de maior durabilidade que as comuns. Além disso, durante a obra, parte do concreto usado é reciclado: vem do próprio entulho resultante das demolições feitas para modernizar o estádio.

Outra preocupação foi dar um destino às milhares de cadeiras compradas nos últimos anos e que não serão aproveitadas no estádio reformado. Os assentos estão sendo doados pela Suderj para clubes menores do Rio. O estádio do Madureira, por exemplo, recebeu cinco mil unidades.


"O grande desafio no Brasil é superar a cultura de reduzir os custos mais imediatos. O investimento em obras sustentáveis pode ser mais caro a curto prazo, mas, a longo prazo, chega a representar uma economia de 20% a 30% no consumo de materiais", diz o arquiteto Bernard Malafaia, contratado pelos consórcios para acompanhar a reforma.

 
A remodelação do Maracanã está orçada em cerca de R$ 930 milhões. Para garantir a certificação, existem regras que devem ser cumpridas a risca ainda durante as obras.


"A preocupação começa ao evitar desperdícios de materiais e controlar a emissão de ruídos e a poluição do ar. Nas áreas onde existe a circulação de caminhões, por exemplo, temos caixas de decantação para fazer a separação da água e do óleo. Isso evita a contaminação das redes de drenagem", exemplificou Ícaro Moreno Júnior.


A certificação mais simples, porém, também abre margem para algumas contradições. O escritório de alvenaria do presidente da Emop, montado por uma das empresas que fazem a obra do Maracanã, por exemplo, tem aparelhos de ar-condicionado do tipo B, portanto não são os mais econômicos existentes no mercado. O Maracanãzinho, que foi reformado para os Jogos Pan-Americanos de 2007, não adotou praticas sustentáveis para economizar os recursos, e não há planos de reforma do ginásio para as Olimpíadas, quando o espaço recebera as competições de vôlei.

 
Matéria na Íntegra do Jornal O Globo, de 09/08/2011: