quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Entenda o que está em jogo na construção da usina de Belo Monte



A construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, é a maior obra em andamento no Brasil e também a mais polêmica. Enquanto o governo afirma que a geração de energia é importante para o país, comunidades indígenas e entidades criticam os impactos socioambientais. Nesta terça, o Jornal Nacional começou a exibir uma série especial de reportagens sobre Belo Monte.
A usina será construída no Rio Xingu, no Pará. A hidrelétrica terá duas barragens e dois reservatórios. Um canal vai desviar o curso do Rio para ligar os dois reservatórios, sendo que um deles será em área onde já é rio atualmente, e o outro vai inundar onde atualmente há pasto e floresta.

A construção do canal vai desviar o curso do rio, que tem 21 quilômetros de extensão. A obra começa no primeiro semestre do ano que vem.

Belo Monte terá capacidade para produzir 11.233 MW de energia, mas, devido ao regime de cheia e seca do Rio, a produção média será de 4.000 MW, o suficiente para abastecer 18 milhões de residências.


Índios

O projeto atual da usina não prevê inundação de terras indígenas, como o projeto inicial. Dez terras indígenas estão na área de influência da hidrelétrica e duas delas estão situadas nas margens da chamada Volta Grande, trecho do rio que terá o curso desviado. A preocupação é que o desvio do rio ocasione seca na Volta Grande.

"Sem a água, não tem comunidade viva", diz Leôncio Arara, da tribo Arara da Volta Grande.

A Fundação Nacional do Índio (Funai), porém, diz que a vazão da água está garantida. "As condicionantes, as obrigações, é que seja sempre garantida a vazão que é a chamada vazão ecológica. Para que esse modo de vida seja preservado", diz o presidente da Funai, Márcio Meira.

Agricultores

O fazendeiro Manoel Pires tem uma propriedade em área que será alagada para dar lugar a um dos reservatórios. Ele diz que será indenizado pela parte da fazenda onde tem gado e cacau, mas não pela área de reserva legal.

Manoel Pires diz que registrou sua área de reserva legal - área de mata nativa que deve ser preservada dentro da propriedade. "Tem mais de 5 mil árvores. Eu já contei toda essa madeira aqui."

Governo

O governo diz que estuda a solução sobre as áreas de reserva legal, mas diz que a obra é essencial para garantir energia para o país.

"O nosso país é um país que está crescendo. (...) E necessita aproximadamente de 7 mil MW por ano nos próximos dez anos para permitir esse crescimento econômico e o desenvolvimento do nosso país", diz Altino Ventura, diretor de Planejamento Energético do Ministério do Meio Ambiente.

Empresa

Para o diretor de construção da Norte Energia, Luiz Fernando Rufato, empresa que constrói a usina e tem quase 50% de participação governamental, "não podemos abrir mão" da energia de Belo Monte.

"Nós temos que usar. Esse é o potencial do Brasil, dos brasileiros, que é para a gente ter essa garantia de que nós vamos ter energia barata, renovável, sem depender de nada."

Ambientalistas

Marcelo Salazar, da ONG Instituto Socioambiental, afirma que o custo de Belo Monte é "muito maior do que o que está sendo ventilado pelo empreendedor".

"Você tem diversos impactos sócio-ambientais da obra que vao muito alem da área de abrangência da obra que não estão sendo dimensionados", disse.



- Acompanhe as outras reportagens sobre Belo Monte exibidas no Jornal Nacional em 25/08/2011 e 26/08/2011