O concurso de
concreto colorido de alta resistência é promovido anualmente pelo Instituto
Brasileiro do Concreto (IBRACON) e tem como finalidade estimular os alunos de
engenharia civil das universidades de todo o Brasil a se aprofundarem na área
de novos materiais para a dosagem do concreto pensando na estética do concreto
aparente associado a altas resistências.
Este já é um
desafio muito grande, porque os alunos passam a se empenharem durante meses em
pesquisar materiais e técnicas que possam elevar a resistência à compressão do
concreto e associar isso a necessidade de produzir um concreto esteticamente
interessante, com a incorporação de pigmentos (que tendem, em alguns casos, a
diminuir a resistência do concreto) e a tentativa de reduzir bolhas de ar na
superfície, produzindo um concreto com superfície lisa e com coloração
homogênea.
Não
satisfeitos com isso, a comissão organizadora dos concursos colocou em 2012 mais
um desafio para os alunos, o de atender ao exposto no parágrafo anterior com um
consumo de aglomerantes máximo de 300 kg/m3. O motivo disso é que as
edições anteriores a este concurso (2010 e 2011) geravam concretos com altíssima
resistência, porém, com consumo de aglomerantes elevadíssimo e fora do contexto
da aplicação prática. Sabe-se que atualmente o interessante é produzir
concretos com elevados níveis de resistência associado ao uso de baixos
consumos de cimento, que é um material que gera muito dióxido de carbono na sua
produção. Desse modo, a mudança de rumos do concurso de 2012 foi muito válida
porque fez o aluno trabalhar com alta resistência associando com estética,
qualidade, custo e redução do impacto ambiental do concreto produzido. Todos
estes conceitos são o dia a dia de qualquer engenheiro civil moderno.
Outra questão
que o concurso suscitou indiretamente foi o da ética profissional. Quando a
comissão do concurso propôs o limite de consumo de cimento, muitos se
perguntaram: Como isso vai ser controlado pelos avaliadores do concurso? Uns
falaram que alguém iria infringir as regras e ganhar o concurso, outros
argumentaram que existe uma questão de ética e que o professor orientador não
pode deixar que seus alunos descumpram as regras, pois isto é dar exemplo de
falta de ética. No meio de tudo isso, outros rebateram que os professores
orientadores não estarão sempre com seus alunos e não é possível garantir o
cumprimento do edital. E por fim, ouve-se a pergunta chave: Que Engenheiros Civis
serão os alunos de uma equipe que precisa infringir um edital de concurso para
ganhar? Resumidamente, pode-se dizer que o ponto positivo de toda esta
discussão é que o aluno, que será um Engenheiro Civil no futuro, precisa agir
de forma ética na sua prática profissional.
Dentro de todo
este preâmbulo colocado sobre os concursos de 2010, 2011 e 2012, apresenta-se a
equipe do Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Uma
equipe formada por 15 alunos e a mais numerosa entre as inscritas no concurso
de 2012 promovido pelo Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON). Os alunos do
Time-UFPR de 2012 estão representados a seguir:
Estes alunos
conseguiram um concreto de 171 MPa e outro de 164 MPa com 300 kg de
aglomerantes, na cor amarela e vermelha, respectivamente (segue a foto). Calculando-se
a relação entre o consumo de aglomerantes e a resistência à compressão,
obtem-se que este concreto usa cerca de 1,7 kg de aglomerantes para gerar cada
MPa de resistência à compressão. Isso é um indicador de eficiência bastante
significativo na utilização dos aglomerantes, pois os concreto usados
normalmente nas obras atuais usam por volta de 6 a 7 kg de aglomerantes para
cada MPa de resistência. Quanto menos cimento usado para cada MPa de resistência
à compressão significa que a aplicação dos aglomerantes está sendo feito de
forma mais eficiente. Seguindo este raciocínio, pode-se afirmar que o melhor
concreto dosado pelo Time-UFPR de 2012 emprega os aglomerantes de forma 3,5 a 4
vezes mais eficiente do que os concretos usados nas obras convencionais do
Brasil.
O
resultado de tudo isso foi o primeiro lugar do Brasil no 3o Concurso
Concreto Colorido Ecoeficiente – ECO-CC. A seguir foto da premiação que ocorreu
dentro do 54º Congresso Brasileiro do Concreto realizado em Maceió em outubro
de 2012.
Desde 2010,
ano da primeira edição do concurso, os alunos da UFPR tem mostrado bons
resultados como indicado no gráfico a seguir. Contudo, 2012 foi o melhor ano
para os alunos da UFPR devido a primeira colocação obtida.
Efeito colateral:
Desde 2010,
quando comecei a orientar os alunos para participação destes concursos,
passaram por eles 25 alunos e a grande maioria se motivou para pesquisas na
área de materiais de construção. Atualmente, muitos são alunos de mestrado e
tem até um caso de aluno que já ingressou na carreira docente. Creio que este
seja um dos principais “efeitos colaterais” dos concursos, gerar nos nossos
alunos o incentivo, conhecimento, interação, pró-atividade, responsabilidade,
senso crítico, gosto pela pesquisa, pelo novo e avançado na área de tecnologia
do concreto.
Este ano,
teremos no mínimo 3 dos alunos do grupo atual se formando e participando do
processo seletivo de programas de mestrado. E assim uma interação cíclica se
forma, os que não se formam este ano tendem a continuar no grupo e passam seu
conhecimento para os novatos do ano seguinte e, quando se formam, acabam por
ingressar no mestrado.
Esta forma de
trabalho é o que mais me motiva a trabalhar anualmente com os grupos de
graduandos para os concursos promovidos pelo Instituto Brasileiro do Concreto
(IBRACON).
Patrocinadores:
O feito de
2012 não teria sido possível sem o apoio da Universidade Federal do Paraná (UFPR),
cedendo sua infraestrutura e professor orientador além de parte do aporte
financeiro.
Também não
seria possível sem o apoio e patrocínio de algumas empresas da iniciativa
privada que colaboraram com os custos de levar todo o grupo para o local do
evento e com a doação de materiais fundamentais para o desenvolvimento dos
estudos.
Nossos
sinceros agradecimentos pelo incentivo e confiança no nosso trabalho.
Patrocinadores: Consórcio
JMalucelli/CR Almeida, Cassol Pré-Fabricados, Intertechne, Instituto IDD, EGEL
Engenharia S/A, GRACE.
Apoiadores:
Pré-Fabricados Junção, Votorantim Cimentos, EIM UFPR, Tecnosil, Concep 3D,
LanXESS, CINEXPAN, Ferramentas Gerais, MOLTEC e SIKA.
Texto: Marcelo Medeiros
(Prof. Dr. da
Universidade Federal do Paraná)