Durante a Conferência de Energia Eólica do Brasil, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) revela o potencial inaproveitado do País no setor. |
A energia eólica é uma fonte de energia renovável com um potencial ainda pouco aproveitado no mundo e – sobretudo no Brasil. Atualmente, representa apenas 0,4% da matriz energética brasileira, mas estima-se que seu potencial seja de, no mínimo, 143GW. Isso equivale à produção de dez usinas de Itapu somadas.
“Esse dado é o piso e acreditamos estar subestimado. Os 143GW foram estimados com medições de ventos a 50 metros de altura, mas hoje já temos medições de operar com equipamentos que trabalham a 100 metros de altura”, afirma Mauricio Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Em 2005, o Brasil produzia 28MW, com 10 usinas. “Estávamos praticamente do zero até os leilões de 2009 e agora estimamos produzir 7 mil MW até 2014”.
Segundo dados da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), hoje o País produz 1.471 MW, possui usinas em construção que fornecerão 1.200 MW e possui um potencial de 6.000 MW em contratos.
Para Tolmasquim, o Brasil tem uma grande vantagem em relação aos outros países devido ao fato de sua matriz energética predominante ser a hidrelétrica (91%).
“Descobrimos que o ciclo da água é complementar ao ciclo dos ventos. Ou seja, quando está ventando mais é quando menos temos volume de água”, diz.
Com isso, a energia eólica pode funcionar como uma bateria da hidrelétrica. “Quando venta, a hidrelétrica para de gerar energia e acumula água e vice-versa. Assim, usamos duas grandes fontes renováveis que se complementam”, completa.
Além disso, a energia eólica é, depois da hídrica, a de menor custo. E entre as fontes alternativas, é a que tem o menor preço.
Pré-sal do Sertão
Criado em 2005, o Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica) foi a primeira tentativa para incentivar busca de implementação de parques eólicos no País.
O programa esbarrou na baixa atratividade do setor devido aos altos custos de produção desta forma de energia.
Entretanto, em 2009, com os avanços tecnológicos do setor e com leilões com condições mais atrativas para os investidores, teve início uma espécie de boom eólico brasileiro.
Com parques localizados predominantemente no Nordeste e na região Sul do País, o setor de energia eólica emprega 12 mil pessoas por ano e pretende colocar mais 20 mil pessoas nas construções dos parques previstos até 2016.
Além da geração de emprego, o incremento da renda acontece por meio da negociação com os proprietários das terras que se tornarão parques eólicos.
“Negociamos diretamente com os proprietários das terras. Com isso, não os forçamos a ceder suas posses, muitas vezes irregulares, por baixos preços para o Estado”, afirma Elbia Mello, presidente-executiva da Associação ABEEólica.
Ciência e Meio Ambiente
Segundo Colin Johnson, diretor da empresa britânica de energia Grant Thornton, a crise europeia e o modelo de leilão brasileiro têm atraído muitos investidores estrangeiros. Prova disso é que o Brasil possui 8 fábricas eólicas, enquanto possuía apenas duas em 2009.
Para Mello, o desafio brasileiro agora é incentivar a industrialização do setor.
“A inserção já houve, agora precisamos consolidar essa indústria e elaborarmos uma tecnologia que se adapte melhor à realidade brasileira”, revela.
Atualmente, a ABEEólica trabalha por meio de convênios com universidades em uma rede de pesquisa de energia eólica para investir em inovação e otimizar o aproveitamento dos parques brasileiros.
Outro argumento é o setor ambiental. Com uma expansão média anual de 12% para o setor, estima-se que a energia eólica evitará o despejo de 16 bilhões de toneladas de CO2 até 2020.
“Isso representa metade da emissão mundial de CO2 , somente por queima de combustíveis fósseis e produção de cimento”, avalia Mello.
Além disso, segundo Johnson, a energia eólica não depende da volatilidade política ao redor do mundo, como o petróleo por exemplo. “Inicialmente a energia eólica era diretamente relacionada com a questão ambiental, mas agora tem caráter e viabilidade econômica”, defende.
Em 2011, os investimentos na América Latina no setor eólico aumentou cerca de 39%. De acordo com Tolmasquim, da EPE, “se os demais países instalarem o mesmo de parque que instalaram em 2011 e o Brasil instalar o que foi contratado, o País sairá do 20º para o 10º lugar, em 2012, em parques eólicos. E sairá da 11ª para a 4ª posição em incremento (instalação)”, diz.
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