Curitiba é uma cidade icônica e
repleta de símbolos. Dentre tantas paisagens e construções algumas acabam se
destacando, seja pela singularidade, como a Ópera de Arame, seja pela
delicadeza, como o Jardim Botânico, seja pela grandiosidade, como o Prédio
Histórico da UFPR, ou seja por tudo isso junto, como é o caso do Museu Oscar
Niemeyer (MON). A obra, idealizada pelo arquiteto brasileiro homônimo, possui
as características que eram a assinatura do artista, como suas curvas, sua
leveza e suas formas complexas e pouco usuais. Contudo, observar esses
elementos funcionando em conjunto e de forma tão perfeita nos faz pensar em
como tudo aquilo foi projetado e construído. Pois bem, a Engenharia Civil tem a
resposta para tudo isso.
Museu Oscar Niemeyer.
Fonte: Gazeta do Povo.
História
Tudo começou em 1967, quando
Oscar Niemeyer projetou o que seria a sede do Instituto de Educação do Paraná.
O edifício Presidente Humberto Castelo Branco (como foi batizado), no entanto,
foi entregue somente 11 anos mais tarde, servindo como sede das secretarias do
estado do Paraná. A construção era extremamente arrojada e ousada, além dos
balanços com 20 metros de comprimento, o edifício conta com um vão livre de 65
metros, que lhe rendeu, inclusive, o recorde de maior vão livre em concreto
protendido na época. Além disso, todas as vigas são apoiadas em roletes
metálicos, que possibilitam que o deslocamento térmico da estrutura ocorra
livremente.
Operários montando as bainhas e placas de ancoragem,
projetadas para suportar aproximadamente 400tf de força de protensão cada.
Fonte: Shido Ogura.
Rolete móvel (apoio do primeiro gênero) utilizado na
construção do edifício. Fonte: Shido Ogura.
Contudo, em
2002, durante o governo de Jaime Lerner, o edifício recebeu uma nova
destinação, tornando-se um museu. Para tanto, o espaço precisou passar por
algumas readequações e, além disso, recebeu a criação de um novo anexo: o
ilustre “Olho”, também idealizado por Oscar Niemeyer.
Obras
Construir um projeto arquitetado
por Oscar Niemeyer por si só já é um grande desafio, contudo, o prazo de
entrega extremamente curto elevou a dificuldade de execução da obra a outros
níveis. A construção do “Novo Museu”, como foi nomeado na época, teve seu prazo
total fixado em exatos 185 dias e, para suprir essa altíssima demanda, foram
empregados mais de 600 operários, que se revezavam em três turnos.
Durante as obras, optou-se pela
moldagem “in loco” das estruturas, sendo as lajes do teto do Olho as únicas
peças pré-moldadas. O projeto também estabeleceu que o concreto utilizado na
construção deveria possuir uma faixa de resistência entre 25 e 40 MPa, bem como
possuir uma relação água/cimento máxima de 0,5.
Construção do anexo
“Olho”. Fonte: Nani Gois.
A construção do novo anexo
demandou, ao todo, 5226 m³ de concreto, contudo tamanha quantidade de material
poderia causar problemas como temperaturas altíssimas durante o processo de
hidratação, assim como problemas de retração. Por conta disso, optou-se pelo
emprego do cimento CP IV-32 (Cimento Portland pozolânico), que, pela presença
de pozolana em sua composição, possui hidratação lenta e baixa liberação de
calor.
Construção da rampa de
acesso ao MON. Fonte: Gazeta do Povo.
Para
conseguir transpor do papel à realidade a concepção do olho, a solução
encontrada pelos engenheiros foi a criação de uma estrutura com balanço duplo,
coberta por uma cúpula. Os balanços possuem, mais especificamente, 30 metros de
comprimento e são apoiados em um núcleo central de 10 metros. A cobertura da
estrutura é formada por uma casca curva, com 10 cm de espessura, engastada nas
extremidades do vão. A parte inferior, no entanto, é formada por uma casca
invertida apoiada nas próprias vigas em balanço. O prédio do Olho possui ao
todo 30 metros de altura e 70 de comprimento, tendo uma área total de 4.125,37
m².
Exemplo esquemático da
estrutura do Olho. Fonte: Wikipédia
Reconhecimento
No dia 22 de Novembro de 2002,
após 6 meses intensos de trabalho e US$ 14 milhões investidos, o Museu Novo foi
inaugurado. A denominação de Museu Oscar Niemeyer só veio alguns meses depois,
com a reformulação da nova diretoria. Desde então o museu recebeu mais de 300
exposições nacionais e internacionais, já foi visitado por mais de 3 milhões de
visitantes e possui um acervo com mais de 9 mil publicações e periódicos para
pesquisa. Em 2012, foi eleito um dos 20 museus mais bonitos do mundo, segundo o
guia norte-americano Flavorwire. Já em 2017, foi reconhecido pelo Travellers’
Choice, do site de turismo Trip Advisor, como o terceiro melhor museu do Brasil
e quinto melhor da América do Sul.
Vista noturna do MON. Fonte: The Best In Design.
Diante disso tudo fica nítida
a importância do Museu Oscar Niemeyer para a engenharia, arquitetura e para
sociedade como um todo. Sua construção é um exemplo a ser seguido, seja por
conta de sua eficiência, agilidade ou qualidade. A obra reflete o casamento
perfeito entre a genialidade e a arte de Niemeyer e a técnica e tecnologia da
engenharia. O MON, acima disso, é um espaço de cultura e conhecimento, um
verdadeiro tesouro que temos o prazer de ter a nossa disposição.
Fontes:
MOSER,
Sandro. PEDREIRA, BARIGUI, MON… COMO
ERAM OS PRINCIPAIS PONTOS DE CURITIBA “ANTES DA FAMA”. Disponível em: https://guia.gazetadopovo.com.br/materias/antes-e-depois-dos-pontos-turisticos/.
Acesso em: 04/10/2018.
HAUS, GAZETA
DO POVO. MON ESTÁ DE ANIVERSÁRIO!
CONHEÇA DETALHES E CURIOSIDADES DO PROJETO HISTÓRICO. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/haus/arquitetura/8-curiosidades-para-celebrar-15-anos-do-mon/. Acesso em: 04/10/2018.
SANTOS,
Altair. MUSEU OSCAR NIEMEYER DESAFIOU A
ENGENHARIA PARANAENSE. Disponível em: http://www.cimentoitambe.com.br/obra-foi-eleita-uma-das-20-mais-bonitas-do-mundo-e-contou-com-a-participacao-da-construtora-cesbe-e-do-concreto-da-concrebras/. Acesso em: 04/10/2018.
CESBE S.A.. EDIFICAÇÕES: MUSEU OSCAR NIEMEYER. Disponível
em: http://www.cesbe.com.br/obras/museu-oscar-niemeyer/. Acesso em:
04/10/2018.
AVANTEC
ENGENHARIA. CASE: MUSEU OSCAR NIEMEYER. Disponível
em: http://avantecengenharia.com.br/case-museu-oscar-niemeyer/. Acesso
em: 04/10/2018.