quarta-feira, 14 de março de 2012

Estudo prevê investimento de até 700 milhões de euros para desenvolver a cadeia industrial do silício

Mineral é a principal matéria-prima para fabricação de painéis fotovoltaicos. Proposta é instalar parque industrial nas regiões de Foz do Iguaçu, no Paraná, e Hernandárias, no Paraguai – cidades que são sedes de Itaipu Binacional.  



As regiões de Foz do Iguaçu, no Brasil, e Hernandárias, no Paraguai, poderão receber nos próximos anos investimentos de até 700 milhões de euros para desenvolvimento de uma cadeia industrial do silício. O mineral, encontrado no Estado de Minas Gerais, é a principal matéria-prima para fabricação dos painéis fotovoltaicos – equipamentos que geram energia a partir do aproveitamento da luz solar. 

Um estudo final sobre o projeto, chamado de Silício Verde, foi apresentado no dia 08 de março (quinta-feira), no Parque Tecnológico Itaipu (PTI), pelo superintendente de Energias Renováveis da binacional, Cícero Bley Jr., e representantes da companhia alemã Centrotherm. A empresa é considerada a segunda maior fabricante do mundo de equipamentos para a cadeia de produção do silício. 

De acordo com Cícero Bley, o estudo é resultado do acordo de cooperação e transferência de tecnologia assinado em agosto de 2011 pelo diretor-geral brasileiro de Itaipu, Jorge Samek, e o presidente (CEO) da Centrotherm, Peter Fath. Ao documento serão incorporadas as contribuições dos participantes da reunião de quinta-feira e depois seguirá para os diretores-gerais da binacional e análise do Conselho de Administração. 

O passo seguinte será buscar financiamento junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ao banco alemão KfW, para a cobertura dos custos de um estudo de viabilidade econômica. Com esse estudo pronto, começa a fase de sensibilização dos investidores. O cronograma prevê a conclusão do estudo de viabilidade em até dezembro de 2012 e a implantação do projeto em mais três anos. 

“Esperamos anunciar o projeto Silício Verde durante o Dia Mundial da Energia, evento da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20”, antecipou Samek. A conferência será realizada em junho, no Rio de Janeiro. 


Estágios:
O estudo apresentado no PTI prevê seis estágios de produção, desde o grau metalúrgico do silício (pedra) até a transformação em polisilicone, e de mais três estágios industriais para fabricação dos painéis fotovoltaicos. A produção programada é de 4 mil toneladas de polisilicone por ano, o que resultará numa capacidade de geração de energia por meio de painéis de 638 MWp (Megawatt em horário de pico).

“Temos a possibilidade de produzir [com os painéis fotovoltaicos] praticamente uma unidade geradora de Itaipu, o que seria um avanço significativo de energia na América Latina. Hoje, o mercado de silício na região é insignificante”, comentou Cícero Bley.

O superintendente compara a manufatura de painéis fotovoltaicos com a indústria automobilística, que necessita de uma ampla rede de fornecedores de autopeças. No conjunto, estimula o fortalecimento da economia local e a oferta de empregos qualificados. “A cadeia de suprimentos dos painéis vai ativar uma série de indústrias produtoras de partes como vidro, plásticos, conexões, painéis de comando, monitoramento telemétrico e outros”, relacionou.


Nova rota:
Outra vantagem do projeto será inverter uma rota logística hoje desfavorável para o Brasil. Embora seja um dos maiores produtores de silício do mundo, o País apenas exporta o mineral na forma bruta, sem valor agregado, que depois é transformado em países como China, Alemanha, Japão, Coréia e Estados Unidos. Desses países, o silício retorna ao Brasil na forma de painéis fotovoltaicos. “A agregação de valor ocorre na proporção de um para mil”, afirmou.

Chama a atenção a incoerência do processo sob o ponto vista ambiental. Na China, por exemplo, o país processa o silício com energia obtida a partir da queima do carvão. Ou seja, utiliza energia poluente para produzir e vender para o mundo painéis que geram energia limpa. 

Política pública:
Cícero Bley acrescenta que o projeto Silício Verde está alinhado com a proposta do governo brasileiro de regulamentar e estimular a micro geração de energia no País, em especial, a energia fotovoltaica. A iniciativa prevê a instalação de painéis nos telhados das casas e a energia gerada poderá ser contabilizada para abater os custos domiciliares. “Nosso projeto Silício Verde dará base para esse programa nacional”, enfatizou. 

Na semana passada, durante viagem da presidente Dilma Rousseff pela Alemanha, foram anunciados vários acordos de cooperação na área de energias renováveis. “Estamos no lugar certo, na hora certa”, completou o superintendente de Itaipu, sobre a parceria com a indústria alemã. [www.itaipu.gov.br].