Concreto Sustentável - Uma alternativa na atualidade
Por Stephanie Martins
A COP 26 - Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas - que ocorreu entre os dias 1 e 12 de novembro de 2021, na Escócia, trouxe como pauta uma necessidade já abordada na COP 21 - a rápida redução nas emissões de carbono, almejando chegar a 45% de redução em 2030 (tendo como referência os patamares de 2010). Além disso, ficou prevista a neutralidade das emissões globais até 2050, o que significa que emissões adicionais a partir dessa data deverão ser compensadas por mecanismos de captura de carbono.
Tendo em vista essa conferência, é possível perceber como nos dias de hoje é impossível imaginar qualquer tipo de projeto ou ação e, junto a isso, não pensar sobre seu impacto no meio ambiente. Gradativamente, a sustentabilidade vem ganhando mais espaço e, nesse contexto, não poderia ser diferente com o setor da construção civil, visto que o concreto é um dos materiais mais utilizados nesse setor e, também, um dos maiores emissores de gás carbônico no mundo. Essa alta emissão se deve a um de seus componentes – o cimento.
Segundo a GCCA (Global Cement and Concrete Association), a produção de cimento gera cerca de 7% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2), três vezes mais do que o tráfego aéreo. Outro dado comparativo interessante é o de que se a indústria de cimento fosse um país, seria o terceiro maior emissor desse gás no mundo, atrás apenas da China e Estados Unidos.
Diante desses dados alarmantes e do panorama das mudanças climáticas, a busca por um concreto que reduza os impactos na natureza não só é importante como também é extremamente necessária. Atualmente, o concreto sustentável vem ganhando notoriedade exatamente por conseguir obter resultados satisfatórios nesse quesito.
O cimento e as emissões de CO2
A produção de cimento envolve a
extração e o esmagamento de calcário e argila. Essas matérias-primas são então trituradas
e misturadas com outros materiais como minério de ferro ou cinzas e, na etapa
seguinte, introduzidas em grandes fornos cilíndricos e aquecidas a cerca de
1.450 °C. Neles, ocorre a reação química de decomposição térmica – conhecida
como calcinação – que transforma o calcário em óxido de cálcio e CO2.
Esse processo dá origem a uma nova substância, chamada clínquer. Trata-se não só do principal componente do cimento, mas do material cuja produção emite a maior quantidade de CO2 nessa indústria.
No formato de pequenos grãos com tonalidade acinzentada, o clínquer é resfriado, moído e misturado com gesso e calcário. Em seguida, pode ser transportado para fabricantes de concreto.
Concreto usual X concreto sustentável
Produzido a partir de materiais
reaproveitados, o concreto sustentável substitui a areia, a brita e água por
materiais que são totalmente reaproveitados. Ele tem como objetivo
principal reutilizar os materiais que são descartados na construção
civil. Além disso, há uma considerável redução do consumo de água, o que
possibilita uma economia de quase 100% dos recursos naturais.
Em sua composição, o concreto sustentável
pode conter tanto materiais recicláveis quanto materiais naturais como, por
exemplo, areia reaproveitada de fundição, casca de arroz, plástico, fibras de
vidro, pneu e fibra de têxtil.
Na produção do concreto convencional
são utilizados materiais como brita, cimento, areia e outros aditivos. Já
na produção do concreto sustentável, esses resíduos sólidos são substituídos
por materiais recicláveis que são misturados e triturados até que se
obtenha o resultado de um bloco compacto.
Embora o concreto sustentável
apresente inúmeros benefícios, ele não é tão resistente quanto o concreto
convencional. Portanto, não poder ser utilizado para fins estruturais. Ele
deve ser utilizado em locais onde ocorre baixo impacto, como calçadas,
pavimentação de ruas, contrapisos que não necessitam de uma resistência tão
elevada como a construção de uma casa ou edifício, por exemplo.
O concreto sustentável pode ter vários custos, mas em geral o concreto reciclado tende a ter um preço menor do que o tradicional. Isso porque a própria indústria economiza ao usar materiais reciclados, por dois motivos: porque eles são mais baratos, já que as fábricas que os doam ou vendem iriam jogá-los fora inicialmente e, porque ela deixa de gastar dinheiro no descarte dos resíduos dos agregados tradicionais - que é um processo pago.
Tipos de concreto sustentável
O concreto sustentável pode então ser
um concreto com menor quantidade de cimento em sua composição. Para
isso, ele pode ter, por exemplo, agregados maiores, que deixem a quantidade de
espaço entre eles, a ser preenchida com cimento, menor. Ademais, pode ter o
cimento substituído por outro material, de menor impacto ambiental.
O outro tipo de concreto sustentável é o chamado “concreto reciclado”. Nessa opção, os agregados não são a brita e a areia comuns, e sim materiais reciclados, como areia reaproveitada de fundição (escória), a sílica da casca de arroz ou pneus velho triturados, por exemplo. Assim se reduz a quantidade de lixo despejado na natureza, que é o que esses materiais se tornariam se não fossem reutilizados.
A preocupação com o meio ambiente é uma tendência crescente nos dias de hoje diante do cenário climático mundial. Por isso, cada vez mais estão sendo buscadas maneiras de reduzir os impactos do setor da construção civil na natureza. Prova disso é o crescente leque de opções de concreto sustentável atualmente sendo utilizados e desenvolvidos com esse intuito.
Referências:
EQUIPE ECYCLE. O QUE É CONCRETO SUSTENTÁVEL? Disponível em: https://www.ecycle.com.br/concreto-sustentavel/. Acesso em: 14/06/2022.
TEM
SUSTENTÁVEL. CONCRETO SUSTENTÁVEL BRASILEIRO AJUDA A NATUREZA E AINDA
ECONOMIZA. Disponível em: https://www.temsustentavel.com.br/concreto-sustentavel-brasileiro-ajuda-a-natureza-e-ainda-economiza/#:~:text=Diferentemente%20de%20um%20bloco%20de,torna%20bem%20mais%20em%20conta.
Acesso em: 14/06/2022.
DG, Fernanda. TIPOS DE CONCRETO SUSTENTÁVEL. Disponível em: https://dicasdearquitetura.com.br/tipos-de-concreto-sustentavel/. Acesso em: 15/06/2022.
ARCHDAILY. O CIMENTO PODE SER UM MATERIAL (MAIS) SUSTENTÁVEL. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/968777/o-cimento-pode-ser-um-material-mais-sustentavel . Acesso em: 15/06/2022.
CERÂMICA LORENZETTI. CONCRETO SUSTENTÁVEL: SEUS BENEFÍCIOS EM UTILIZAR NA CONSTRUÇÃO CIVIL. Disponível em: https://blog.ceramicalorenzetti.com.br/concreto-sustentavel-beneficios-na-construcao-civil/ . Acesso em: 17/06/2022.
TAGLIANI, Simone. CONCRETO SUSTENTÁVEL: DESCUBRA ESTA VERSÃO QUE LEVA DIFERENTES MATERIAIS EM SUA COMPOSIÇÃO. Disponível em: https://engenharia360.com/massa-de-concreto-sustentavel-na-construcao-civil/ . Acesso em: 17/06/2022.
CONCRETE DIGITAL. COP 26 NA DESCARBONIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO CIVIL. Disponível em: https://digital.concreteshow.com.br/inovao/cop26-na-descarbonizao-da-construo-civil. Acesso em: 18/06/2022.
WRI BRASIL. O SALDO DA COP 26: O QUE A CONFERÊNCIA DO CLIMA SIGNIFICOU PARA O BRASIL E O MUNDO. Disponível em: https://wribrasil.org.br/pt/blog/clima/o-saldo-da-cop26-o-que-conferencia-do-clima-significou-para-o-brasil-e-o-mundo. Acesso em: 18/06/2022.
ISTOÉDINHEIRO.
O CONCRETO: TERCEIRO MAIOR EMISSOR MUNDIAL DE GASES DE EFEITO ESTUFA. Disponível
em: https://www.istoedinheiro.com.br/o-concreto-terceiro-maior-emissor-mundial-de-gases-de-efeito-estufa/. Acesso em: 18/06/2022.
Tecnologia e segurança: inovações que aprimoram o trânsito.
Por Júlia Tschá Longo
O automóvel surgiu há pouco mais de um século e durante esse período passou por evoluções extraordinárias, movidas por constantes inovações tecnológicas. Porém, outros aspectos do transporte, como segurança extra veicular, sinalização e infraestrutura de controle de tráfego, seguem um ritmo de desenvolvimento bem mais lento. Contudo, nos últimos anos, um número significativo de inovações resultou em avanços na segurança rodoviária, que possivelmente se tornarão comuns com o passar dos anos. Algumas dessas interessantes e engenhosas inovações serão aqui comentadas.
Os conhecidos semáforos de três cores e com lâmpadas arredondadas existem desde a década de 1920. O formato arredondado das luzes se deve às lâmpadas incandescentes redondas comumente usadas no equipamento.
Exemplo de semáforo convencional, com luzes arredondadas e lâmpadas tradicionais. Fonte: getty images
Uma recente inovação é trocar as lâmpadas incandescentes por LEDs. Mesmo sendo mais caras a curto prazo, as lâmpadas de LED têm muitas vantagens. São mais brilhantes que as lâmpadas tradicionais e mais eficientes energeticamente, têm maior vida útil e não queimam repentinamente como as lâmpadas incandescentes (algo que pode ser altamente perigoso no trânsito), mas vão aos poucos perdendo intensidade luminosa.
Outro interessante artifício são os semáforos de contagem regressiva, que funcionam através de uma ideia simples: mostrar aos motoristas quanto eles terão que esperar, ou quanto tempo eles têm para chegar à interseção antes que a luz verde se torne amarela ou vermelha.
Semáforos de contagem regressiva aumentam a probabilidade de os motoristas desacelerarem e pararem nos últimos 10 segundos de luz verde. Fonte: geotab.com
Durante a luz vermelha, o motorista tem algo com que se concentrar, por ter uma indicação de quando a espera chegará ao fim. Para a luz verde, esse semáforo fornece informações que permitem que o motorista ajuste sua velocidade: se houver muito tempo sobrando, não há necessidade de desacelerar. Com pouco tempo sobrando, talvez seja hora de começar a desacelerar.
Luzes guiando o caminho
Por muitos anos, os postes de iluminação
e os olhos de gato têm sido o método padrão para enxergar à frente em estradas
e ruas escuras, orientando os motoristas à noite ou em nevoeiros.
A
iluminação das ruas com postes é mais cara e geralmente está presente apenas em
áreas populosas, onde serve a outros propósitos além de auxiliar os motoristas.
Os olhos de gato são mais comuns fora das cidades onde não é prático ter iluminação.
Pensando nesse cenário, um consórcio
holandês criou uma pintura de estrada que brilha no escuro. A tinta absorve a
energia solar durante o dia, e brilha durante a noite, tornando a direção da
estrada à frente claramente visível no escuro, sem qualquer outra
infraestrutura ou gasto de energia. Essa
pintura luminescente é uma forma econômica de iluminar estradas em áreas mais
distantes de cidades.
Estrada na Holanda onde a pintura que brilha no escuro aumenta a visibilidade e a segurança. Fonte: newatlas.com
Inteligência Artificial
Por fim, uma inovação que vem revolucionando
as mais diversas áreas da ciência, e também os setores de transportes, é a
inteligência artificial. Teste após teste, a inteligência artificial, ou IA,
demonstrou ajudar as pessoas a dirigir com mais segurança e salvar vidas.
Órgãos de monitoramento de trânsito,
concessionárias de rodovias e órgãos policiais podem utilizar imagens em tempo
real para acompanhar os deslocamentos viários. A inteligência artificial
analisa cada fragmento de imagem, a velocidade dos veículos e o comportamento
dos motoristas.
A Inteligência Artificial ajuda a melhorar fluidez, o movimento nas vias e a observar o comportamento dos motoristas. Fonte: 123RF
Esses dados são tratados e transformados em informações úteis para todos, dos motoristas aos profissionais técnicos e órgãos de trânsito. Isso contribui com a redução de acidentes e, consequentemente, aumenta a segurança, além de tornar as rodovias e vias urbanas mais agradáveis de serem utilizadas.
Referências:
NEWATLAS. First highway with glow-in-the-dark markings opens in the Netherlands. Disponível em: https://newatlas.com/smart-highway-glowing-lines/34363/
KHAN, Zafar. Technology for Road Safety. Disponível em: https://www.trafficinfratech.com/technology-for-road-safety/
MCFADDEN, Cristopher. 11 Futuristic Traffic Lights That Could Make Roads Safer. Disponível em: https://interestingengineering.com/11-futuristic-traffic-lights-that-could-make-roads-safer
ROBINSON, Ian. Como a Inteligência Artificial pode tornar o trânsito mais seguro? Disponível em: https://itforum.com.br/noticias/como-a-inteligencia-artificial-pode-tornar-o-transito-mais-seguro/
Acesso em: 15/03/2022.
APOSTILA TELHADO VERDE
Tendo em vista em como o setor de construção civil utiliza em abundância recursos naturais, além de ser um dos principais responsáveis pela emissão de gases do efeito estufa, optar por medidas sustentáveis é indispensável a fim de amenizar esses impactos ambientais. Pensando nisso, o grupo PET Civil UFPR elaborou um guia que aborda sobre uma dessas opções sustentáveis: o telhado verde. Nessa apostila, você encontrará um rebate histórico sobre o assunto, os tipos de telhado verde existentes e uma análise mais técnica do funcionamento de sua estrutura. Também, há uma reflexão final sobre suas principais vantagens, desvantagens, custo, manutenção e durabilidade.
Interseções em diamante divergente: confusas, mas seguras
Por Gabriel Angelo Juc Dias
A interseção em diamante divergente é um tipo de interseção em que os dois sentidos da rodovia se divergem durante a passagem do cruzamento existente na interseção. Ao ver um vídeo ou imagem desse tipo de dispositivo, é fácil notar que, a primeira vista, esse sistema parece ser muito caótico, mas esse conceito tem se difundido consideravelmente nos EUA e em alguns pontos da Europa, por reduzir pontos de conflito, ao fazer a inversão das faixas de tráfego.
Antes de falarmos propriamente sobre essa interseção, vamos voltar um pouco atrás e falar das interseções comuns as quais estamos acostumados. Elas podem ser interseções que conectam rodovias a estradas que dão acesso à comunidades, vias arteriais ou coletoras, ou também podem fazer a interconexão de duas ou mais rodovias com grande volume de tráfego.
Uma interseção diamante simples, como na imagem abaixo, envolve quatro rampas, duas que saem e duas que entram na rodovia.
Já as interseções do tipo diamante divergente, propõe uma ideia diferente. Confusa ao início, essas interseções colocam o motorista para dirigir no sentido oposto da rodovia. Entretanto, uma vez que os motoristas aprendem a usá-la, o sistema traz maior segurança aos seus usuários, motoristas e pedestres.
Entre os benefícios nesse tipo de conceito, pode-se citar a diminuição dos pontos de conflito (de 26 para 14) entre os diferentes sentidos da pista, o menor espaço de implantação, maior distância de visibilidade nas curvas e cruzamentos de pedestres mais curtos, entre outros benefícios.
O fluxo de tráfego é completamente diferente, pois nesse design é descartada a necessidade de realizar um cruzamento à esquerda, sendo que esse tipo de manobra faz parte das que mais podem causar acidentes e também lentidão no tráfego. Por outro lado, há a necessidade da instalação de semáforos para a inversão do fluxo.
Vejo o caso da próxima interseção em Springfield, Missouri. Até o ano que de 2008 a interseção era do tipo diamante simples, todavia, acontecia de haver um enorme volume de veículos nas áreas em vermelho, gerando congestionamento e colocando pedestres e motoristas em risco.
Um estudo realizado nessa interseção em específica constatou que houveram diminuição de acidentes em até 60%.
Para facilmente observar os benefícios de uma interseção assim, imagine um caminhão que deseja ir do ponto A até o ponto B. No sistema anterior, ele levaria mais tempo ao fazer o cruzamento, gerando mais congestionamento e diminuindo a visibilidade de outros usuários da pista. Já no sistema novo, o mesmo caminhão simplesmente pega a faixa da esquerda, sem correr o risco de causar infortúnios na pista.
Referências
OZAKSFIRST. STUDY: DIVERGING DIAMONDS DECREASE CRASES IN SPRINGFIELD. Disponível em: https://www.ozarksfirst.com/local-news/study-diverging-diamonds-decrease-crashes-in-springfield//. Acesso em: 30/11/2021.
ANDRÉ PITA. INTERSEÇÕES TIPO DIAMANTE DIVERGENTE. Disponível em: https://pt.linkedin.com/pulse/interse%C3%A7%C3%A3o-tipo-diamante-divergente-andr%C3%A9-pita. Acesso em: 30/11/2021.
AUSTINMCCONNEL. HOW DIVERGING DIAMONDS KEEP YOU FROM DYING. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=A0sM6xVAY-A. Acesso em: 30/11/2021.
SEHINC. THE AMAZING WORLD OF: INTERCHANGE DESIGNS. Disponível em: https://www.sehinc.com/news/amazing-world-interchange-designs. Acesso em: 30/11/2021.
A formação e a Avaliação voltadas para o Desenvolvimento de Competências
Por Elvidio Gavassoni Neto
O setor de Engenharia Civil está passando por modificações substanciais. Fatores como sustentabilidade, crise energética, transformação digital e mudanças climáticas criam uma demanda por uma mão de obra qualificada e preparada para lidar com tais desafios. Porém, nem sempre as estratégias, procedimentos, instrumentos, conteúdos e finalidades adotados correspondem aos critérios e fatores almejados nas abordagens de formação e avaliação acadêmicas. Uma abordagem que vai de encontro a tais requisitos baseia-se no desenvolvimento de competências. Ser competente caracteriza-se por, diante de um problema profissional, mobilizar os recursos, os comportamentos e os conhecimentos disponíveis e articulá-los para que seja possível tomar decisões e fazer encaminhamentos adequados e úteis ao enfrentamento da situação.
Apenas uma força de trabalho competente e qualificada pode realizar a transição da Engenharia Civil para as condições desafiadoras do futuro do setor. Em uma condição atual onde as fontes de conhecimento, incluindo o saber técnico, estão amplamente disponíveis é esperado que a trajetória de formação educativa desloque-se da tradicional abordagem baseada em conhecimentos e passe a ser expressa em competências, habilidades, conhecimentos e saberes fundamentais para o exercício criativo, social e técnico da profissão de engenheiro civil. Essas competências incluem não só competências técnicas, mas também aquelas do tipo socioemocionais indispensáveis na tomada de decisão, trabalho em grupo, colaboração intercultural e interdisciplinar.
Como a avaliação é uma parte
indispensável do processo formativo, a abordagem baseada em competências também
se estende aos processos avaliativos na formação acadêmica. Há que se
desenvolver processos avaliativos que consigam evidenciar a forma pela qual
ocorre a articulação teoria e prática, bem como indicadores de como as
competências foram exercitadas e adquiridas durante a formação universitária
para averiguar a qualidade formativa dos futuros profissionais. Instrumentos
avaliativos, principalmente os de resposta fechada, qualitativos ou
quantitativos, como questionários, inquéritos, provas, testes, checklist,
workshops, portfólios, memoriais e quizzes utilizadas na avaliação com
abordagem voltada para verificação do conhecimento precisam ser substituídos
por outros que se adequem ao desenvolvimento das competências pretendidas.
A formação de profissionais de
Engenharia Civil qualificados para enfrentar os desafios da transição que essa
área enfrenta atualmente impõe grandes desafios. O enfrentamento desses
desafios passa pela abordagem da formação e da avaliação baseadas no
desenvolvimento de competências. Tais competências que são de várias naturezas
e se estendem muito além das clássicas e indispensáveis habilidades técnicas
incluindo o desenvolvimento de competências socioemocionais importantes para os
profissionais do futuro.
Processo de demolição na construção civil
Por Bruna dos Santos
Bertini
A construção civil é um dos setores da economia que se destaca no desenvolvimento das cidades e na geração de empregos, mas ao mesmo tempo gera uma grande quantidade de resíduos nos canteiros de obras. Estimativas indicam que pelo menos metade do entulho gerado nas cidades brasileiras é proveniente das construções, e estes podem ser de desperdícios na obra, reformas ou demolição.
Os métodos construtivos vêm se tornando cada vez mais avançados e oferecendo cada vez mais alternativas que possibilitam a redução dos impactos ambientais. O maior tempo de duração das construções é um fator que vai de encontro com a necessidade dessa redução, uma vez que a sua demolição também é uma grande geradora de resíduos. A engenharia civil já ocupa um lugar de destaque na utilização de recursos naturais e é o setor que mais atinge negativamente o meio ambiente, porém, independente desse avanço dos métodos, todas as obras possuem o seu limite de vida útil, havendo a necessidade de serem demolidas depois desse período. Algumas vezes esse processo precisa ser antecipado e então ocorre antes do previsto. Demolição é a derrubada de obras, de edifícios, de forma controlada, podendo ocorrer por diversos fatores, entre eles demolição de obras com estrutura comprometida, renovação do espaço e construção de novas edificações no local.
Quais são os tipos de demolição?
Existem três tipos principais de demolição: manual, mecanizada e com explosivos.
A demolição manual utiliza ferramentas manuais e é
realizada em demolições que demandem mais cuidado com a estrutura. É
considerado um tipo sustentável já que é possível reutilizar uma maior
quantidade dos materiais gerados no processo.
A demolição
mecanizada envolve técnicas e procedimentos que utilizam equipamentos e
ferramentas mecânicas para realizar o desmonte. Faz-se uso de máquinas pesadas
de pequeno e médio porte. Esse modelo de demolição gera muito
ruído e poeira, mas é realizado em um menor tempo e com uma equipe pequena de
mão de obra, porém especializada.
A demolição
com o uso de explosivos tem por objetivo eliminar os principais elementos de
apoio do prédio. Geralmente é utilizada na demolição de prédios altos e pontes.
Cuidados na hora de executar a demolição
Alguns
cuidados devem ser tomados antes do início do processo de demolição, como
possuir o alvará de execução de demolição que deve ser solicitado à prefeitura,
adquirir um seguro de responsabilidade e fazer vistorias nas construções
vizinhas e relatório das condições das mesmas, para que se verifique quais eram
os problemas já existentes.
Já alguns
procedimentos devem ser tomados na hora da desconstrução para garantir a
segurança de todos, como manter a escada livre e somente demoli-la depois da
retirada dos materiais dos pavimentos superiores, remover objetos pesados ou
volumosos, remover entulhos, por gravidade, através de calhas fechadas,
instalar plataformas de retenção de entulho e demolir as paredes antes da
estrutura.
Destinação e reutilização dos resíduos
A produção de resíduos da construção
civil em grandes cidades é duas vezes maior que a produção de lixo urbano, por
isso é muito importante que esses resíduos tenham um destino correto e possam
ser reciclados, para que se evite ao máximo os impactos ambientais.
Os entulhos
não podem ser descartados de maneira convencional, por isso algumas cidades
possuem pontos de recolhimento para serem destinados ao local correto. Outra
opção é contratar uma empresa especializada no descarte correto desses
materiais.
Todo resíduo gerado no processo de
construção, de reforma, escavação ou demolição, é considerado como Resíduo da
Construção de Demolição (RDC) ou Resíduo da Construção Civil (RCC). Entulho são
todos os restos ou fragmentos de materiais e a demolição por sua vez, gera
somente fragmentos. Se os materiais forem coletados de forma correta, e estiverem
limpos, é possível que 100% deles sejam reciclados. A reciclagem de resíduos é uma alternativa
sustentável para a destinação dos entulhos pois possui custos menores,
possibilita o reaproveitamento de materiais que seriam descartados, além de
contribuir para aliviar a pressão em aterros inertes, reduzir as chances de
deposição em locais clandestinos e minimizar a extração de matéria-prima. Para
tal, é preciso que haja no canteiro de obras uma área destinada à separação e
acondicionamento dos materiais, depois há uma checagem para garantir que não há
resíduos de outras classes, e por fim, britagem e peneiramento. Possíveis
aplicações para o entulho processado são pavimentações de estradas rurais,
calçadas, bancos de praça, blocos, enchimento de fundações, pisos e
contrapisos, aterro de vias de acesso, argamassas de assentamento, entre várias
outras.
Em suma, a construção civil é responsável por
causar grandes danos ao planeta, mas processos como a desconstrução são
necessários apesar de seus danos. Num momento em que cada vez mais temos que
nos alinhar com a sustentabilidade, é preciso que se vise reduzir a geração de
resíduos e os impactos ao meio ambiente, além de promover a reciclagem sempre
que possível. Se esses materiais forem manipulados e separados com cuidado e da
maneira correta, podem ser reutilizados em outras construções e assim, atrelar construção
civil com um desenvolvimento sustentável.
Referências
LOCADORA EQUILOC. DEMOLIÇÃO
NA CONSTRUÇÃO CIVIL: GUIA COMPLETO E DEFINITIVO. Disponível em: https://locadoraequiloc.com.br/blog/demolicao/. Acesso em: 02/11/2021.
DINADRILL. QUAIS OS
PRINCIPAIS TIPOS DE DEMOLIÇÃO NA CONSTRUÇÃO CIVIL? Disponível em: https://www.dinadrill.com.br/noticia/quais-os-principais-tipos-de-demolicao-na-construcao-civil. Acesso em: 02/11/2021.
VGR. O QUE FAZER COM
OS ENTULHOS GERADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL? Disponível em: https://www.vgresiduos.com.br/blog/o-que-fazer-com-os-entulhos-gerados-na-construcao-civil/. Acesso em: 04/11/2021.
DEMOLIDORA SOLUM. DESCARTE
DE RESÍDUOS DE DEMOLIÇÃO: É POSSÍVEL RECICLAR? Disponível em: https://www.demolidorasolum.com.br/blog/descarte-de-residuos-de-demolicao/. Acesso em: 04/11/2021.
Tokyo 2020: a sustentabilidade de mãos dadas com a engenharia
Por Rafael Moia Apolonio
As Olimpíadas originaram-se por volta do século VIII a.C., no
contexto da antiga Hélade, isto é, o conjunto das cidades-estado da Grécia
Clássica. A realização dos jogos ocorria na cidade de Olímpia - por isso o nome
“Olimpíadas” - para onde os cidadãos das outras cidades peregrinavam a fim de
participarem das competições. E, desde então, uma série de adaptações ocorreram
para que esse evento de proporções mundiais se adequasse aos padrões de uma
sociedade em constante comutação. Entretanto, pode-se afirmar que nos anos
hodiernos as construções vinham sendo realizadas de forma pouco ambientalmente
consciente e, dessa forma, cada vez mais urgia a necessidade de uma ação ativa
e responsável dos projetos de engenharia. Nesse contexto, pode-se notar na
prática sua importância, principalmente em se tratando das Olimpíadas de
Tóquio.
Segundo parâmetros estabelecidos por Martin
Müller no artigo “An evaluation of the
sustainability of the Olympic Games” publicado na revista Nature, devido às grandes proporções e
abrangência dos jogos olímpicos, esse evento impacta fortemente o meio ambiente
e a sociedade como um todo. Dessa forma, o artigo classificou algumas vertentes
da sustentabilidade através de pontuações que variam entre 0 e 100, podendo-se,
assim, mensurar o quão ecologicamente corretos foram os eventos passados. Nesse
contexto, pode-se concluir que a Rio 2016 (29 pontos) e Sochi 2014 (24 pontos) foram as piores entre os anos de 1992 à 2020,
enquanto Tokyo 2020 encontrou-se na
faixa dos 35 pontos. Ademais, é válido ressaltar que mesmo as organizações mais
bem classificadas, como a de Salt Lake
City com 71 pontos, ainda não atingiram o patamar ecológico e o baixo
impacto ambiental desejados.
Definição e modelo conceitual de sustentabilidade nos Jogos Olímpicos
Fonte: An avaluation of the Olympic Games
No que se refere a organização do evento pelo Comitê
Olímpico Internacional (IOC) enquanto Owner
of the Olimpic Games (tradução literal de “Donos do Jogos Olímpicos”), é
importante mencionar que algumas alterações foram necessárias devido à pandemia
do COVID-19. Na prática, isso pode ser evidenciado através de medidas como a
racionalização dos serviços de transporte, reduções na aparência dos jogos nas
instalações e na vila olímpica e paralímpica,
otimização das operações de revezamento da tocha olímpica, mudanças nas
atividades dos espectadores nos locais de competição, dentre várias outras.
Reduzir, reutilizar e reciclar
Visando um evento mais limpo e sustentável, a
engenharia por trás de Tokyo 2020
revelou sua importância pautada na conscientização ambiental e homenagem
respeitosa à cultura japonesa. Para isso, apenas 8 novos locais de competição
foram construídos do zero, havendo um bom reaproveitamento de construções
antigas (principalmente no referente à Olimpíada ocorrida em 1964). O arquiteto
e urbanista Kenzo Tange foi de fundamental importância para que isso fosse
possível, uma vez que ele já estaria envolvido na construção da Arena Olímpica
no evento anterior, por exemplo. Nas palavras de Tange: “Eu quero, de qualquer
forma, que meus edifícios estejam livres do rótulo de ‘tradicional’ ”.
Muito também foi realizado pela organização sobre a
recuperação de materiais, dos quais se pode mencionar as quase 79.000 toneladas
de smartphones e outros equipamentos eletrônicos doados pelo público japonês -
conhecidos como “minas urbanas” - que foram usados para fazer as 5.000
medalhas olímpicas e paralímpicas. Além disso, a tocha olímpica foi produzida
com resíduos de alumínio de uma caixa temporária construída após o terremoto de
2011 e, até mesmo as camisetas e calças usadas pelos portadores da tocha, eram
feitas de garrafas plásticas recicladas coletadas pela empresa Coca-Cola.
Além do carbono neutro
Segundo o relatório apresentado pelo “IOC News”, além das 25 construções adaptadas do evento anterior em Tóquio e dos 8 novos locais, outros 10 foram levantados de modo provisório com as “mãos dadas” à engenharia no que se refere ao uso de avaçadas tecnologias construtivas, minimizando custos de construção e uso energético. Nesse cenário, menciona-se também que a maior parte da energia utilizada veio de fontes renováveis, incluindo painéis solares e energia de biomassa de madeira, que usou resíduos de construção e aparas de árvores no Japão para produzir eletricidade. Como forma de comprovação, pode-se exemplificar através do renomado Ariake Urban Sports Park, o qual é totalmente movido por eletricidade solar renovável produzida em Fukushima (palco do desastroso terremoto em 2011).
Muito se é dito quanto à parte da Tokyo 2020 que não utilizou recursos
energéticos renováveis, entretanto, onde não o foi possível, contemplou-se
certificados de energia verde para compensar o uso de eletricidade não
renovável. Ademais, os jogos contaram com a compensação mais do que neutra de
carbono, a qual cobriu todas as emissões diretas e indiretas, incluindo
transporte e construção que, segundo o Programa de Limitação e Comércio de
Carbono do Japão, os créditos do poluente compensaram cerca de 720.000
toneladas de CO2 que seriam emitidos para que se realizassem os quatro dias das
Cerimônias de Abertura e Encerramento Olímpico e Paraolímpico.
Construindo para o futuro
As duas principais zonas olímpicas - a Heritage Zone e a Tokyo Bay Zone - foram projetadas para construir o melhor do
passado para um futuro sustentável. A primeira reaproveita vários locais
icônicos usados nos Jogos de Tóquio de 1964, incluindo o local de tênis de
mesa no Tokyo Metropolitan Gymnasium
e o mundialmente famoso Nippon Budokan.
Já o novo Estádio Nacional do Japão - sede das Cerimônias de Abertura e
Encerramento - incorpora beirais gigantes para permitir que a brisa refrescante
circule livremente (os beirais, uma característica da arquitetura tradicional
japonesa, são projetados para usar vento natural em vez de ar condicionado).
Em contraste, a ultramoderna Tokyo Bay Zone é um modelo de
desenvolvimento urbano inovador que irá revitalizar a orla marítima de Tóquio,
com melhor transporte e acesso à área da baía. Entre os 16 locais está o Tokyo Aquatics Center, que pode ajustar
o comprimento e a profundidade de suas piscinas movendo pisos e paredes, além
de ser alimentado por energia solar e ter seu calor remanejado ao solo. De forma
paralela, a Vila Olímpica -
presente na intersecção das duas zonas - fica em um terreno recuperado e a
matriz energética usada pela instalação foi gerada com hidrogênio usando
células à combustível de hidrogênio puro (é dito que após os jogos a Vila será transformada em
apartamentos, escola, lojas e outras instalações movidos à hidrogênio).
Em
suma, pode-se concluir a importância da conscientização ambiental atrelada ao
processo construtivo de obras de engenharia, principalmente em se tratando de
imponentes construções das quais impactam grandemente o meio ambiente. Em um
cenário em que a sustentabilidade estava sendo preterida, Tokyo 2020 reviveu
a importante responsabilidade social e ambiental de se sediar um evento com
essas proporções, escancarando a força do antigo provérbio indígena “Só quando
a última árvore for derrubada, o último peixe for morto e o último rio for
poluído é que o homem perceberá que não pode comer dinheiro.”
Referências
TANGE, Kenzo. OLYMPIC
ARENA. Disponível em:
http://www.greatbuildings.com/buildings/Olympic_Arena.html. Acesso em:
20/10/2021.
Numen Arquitetura. A ARQUITETURA DAS
OLIMPÍADAS DE TÓQUIO. Disponível em: https://www.numenarquitetura.com/post/a-arquitetura-das-olimp%C3%ADadas-de-t%C3%B3quio.
Acesso em: 20/10/2021.
Redação GQ. JOGOS OLÍMPICOS ESTÃO
FICANDO MENOS SUSTENTÁVEIS DESDE 2002, DIZ ESTUDO. Disponível em:
https://gq.globo.com/um-so-planeta/noticia/2021/07/jogos-olimpicos-menos-sustentaveis.html.
Acesso em: 20/10/2021.
MÜLLER, Martin. AN
EVALUATION OF THE SUSTAINABILITY OF THE OLYMPIC GAMES. Disponível em:
https://www.nature.com/articles/s41893-021-00696-5. Acesso em: 24/10/2021.
Association of National Olympic Committees. TOKYO 2020 PUBLISHES UPDATE TO
SUSTAINABILITY PRE-GAMES REPORT. Disponível em:
https://www.anocolympic.org/olympic-movement/tokyo-2020-publishes-update-to-sustainability-pre-games-report/.
Acesso em: 24/10/2021.
International Olympic Committee. ALL YOU NEED TO KNOW ABOUT TOKYO 2020 SUSTAINABILITY. Disponível em:
https://olympics.com/ioc/news/all-you-need-to-know-about-tokyo-2020-sustainability.
Acesso em:
25/10/2021.
International Olympic Committee. ANNUAL
REPORT 2020. Disponível em:
https://stillmed.olympics.com/media/Documents/International-Olympic-Committee/Annual-report/IOC-Annual-Report-2020.pdf.
Acesso em: 25/10/2021.
TAGLIANI, Simone. OLIMPÍADAS 2021-2021:
CONHEÇA UM POUCO DA ARQUITETURA DESTE EVENTO TÃO AGUARDADO. Disponível em:
https://engenharia360.com/as-principais-arquiteturas-das-olimpiadas-2020-2021/.
Acesso em: 25/10/2021.
DILLON, Lorena. CONHEÇA ONDE O SKATE
FARÁ ESTREIA NAS OIMPÍADAS: ARIAKE URBAN SPORTS PARK. Disponível em:
https://ge.globo.com/olimpiadas/noticia/conheca-onde-o-skate-fara-estreia-nas-olimpiadas-ariake-urban-sports-park.ghtml.
Acesso em: 25/10/2021.
Veneza: A Poética Cidade Construída Sobre as Águas
Por Braulio Eduardo Pscheidt Duffeck
A
cidade de Veneza, localizada na região do Vêneto, no nordeste italiano, é uma
das rotas turísticas mais requintadas da atualidade, estando presente no
subconsciente imaginário de muitas pessoas como um destino romântico e
sofisticado onde passeios de barco através dos diversos canais que interligam a
cidade simbolizam o fascínio do local.
Entremeio a tantos encantos presentes na magnífica Veneza, destacam-se as grandiosas obras de engenharia responsáveis por conectar o conjunto de 118 ilhas venezianas pelas mais de 400 pontes que transpõe os canais da cidade, possibilitando assim a ocupação de áreas anteriormente inóspitas devido aos esforços em conter a ação cíclica das marés sobre o território veneziano.
Contexto
histórico e a engenharia por trás da construção de Veneza
Os
processos de ocupação e de construção da cidade de Veneza estão diretamente
interligados com o contexto histórico da Itália no século V, sendo estes
impulsionados pela queda do Império Romano do Ocidente, fato que estabeleceu as
condições necessárias para o desenvolvimento do nordeste italiano, onde ficam localizadas
as ilhas de Veneza.
Com
o fim do Império Romano em 476 d.C., os povos bárbaros dominaram o continente
europeu de forma súbita, cercando diversos territórios que estavam localizados
próximos à sua extensão. A população do norte da Itália foi uma das mais
atingidas pela ascensão dos bárbaros, estando ameaçada por diversos exércitos
que avançavam da Ásia e do sul, como os lombardos e os eslavos.
Perante
o contexto citado, os povos do norte italiano buscaram refúgio em regiões
isoladas e de difícil acesso do continente europeu, onde o risco de ataques e
invasões por parte de outros exércitos seria minimizado. O local escolhido para
tal finalidade foi o conjunto de ilhas situadas à beira do Mar Adriático, uma
área de pequena extensão territorial que sofria constantes inundações com a
ação das marés, onde futuramente seria a cidade de Veneza.
O
avanço das construções sobre as águas não era uma tarefa simples, pois demandava
um grande senso de inovação por parte dos povos da época. O solo pantanoso e as
poucas áreas de terra firme criavam vários entraves para a construção das estruturas
em Veneza. Para edificar suas casas, os construtores da época adotaram uma
técnica de recuperação do terreno que consistia na delimitação de um trecho
através da conexão de várias ilhas pelo estaqueamento de toras de madeira muito
próximas umas às outras. Com o terreno delimitado, a água que estava na
superfície era drenada, permitindo assim que a construção pudesse ser erguida.
Além
de todas as dificuldades encontradas no processo de drenagem da água na
superfície das ilhas, ainda era necessário construir uma fundação resistente
para a edificação, pois devido ao fato do solo da região ser pantanoso e
instável, a estrutura corria sérios riscos de ceder e afundar. A solução
adotada para este problema se deu através da fixação de diversos troncos de
madeira no solo, que alcançavam o fundo do canal até uma profundidade média de
5 metros. A partir disso, quando a madeira entrava em contato com o “caranto”
(mistura de areia e argila), aliada à ausência de oxigênio no fundo do canal,
ocorria uma reação química de fossilização que deixava sua estrutura altamente
resistente, tornando-a capaz de sustentar a edificação.
Acima
dos troncos de fundação também era assentada uma camada dupla de placas de
madeira, que realizava o nivelamento do terreno e auxiliava os construtores a
distribuir os carregamentos da obra. Essa camada de madeira recebia ainda o
reforço de grandes blocos de pedra ístria, para auxiliar na impermeabilização
do terreno, tendo em vista que era comum ocorrer mudanças repentinas no nível
da água.
Foram
necessários anos de prática para que os italianos consolidassem o domínio de todas
essas técnicas construtivas, e a partir do século XIII, Veneza já monopolizava
o comércio no Mediterrâneo e a ligação com o continente asiático. Todavia, com
a descoberta de uma nova rota mais lucrativa para a Ásia, a cidade acabou
perdendo seu status de potência e foi
dominada por outras nações.
A Veneza moderna
Em
termos de infraestrutura urbana, os sistemas elétrico e hidráulico que integram
a cidade estão localizados logo abaixo da superfície das calçadas, as quais são
constituídas por pedras trachite. A
conexão entre esses sistemas ocorre através das pontes que unem as ilhas de
Veneza, permitindo que até mesmo os pontos mais remotos da região tenham acesso
a eles. Já o sistema de esgoto caracteriza-se pelo uso de fossas sépticas e
galerias para a condução dos resíduos aos rios e canais da cidade.
Desde
sua construção até a atualidade, Veneza enfrenta os severos efeitos das marés.
Nos meses de inverno a maré alta chega a ser constante no dia a dia do
venezianos, e como não é possível transitar de carro pela cidade, os moradores
são obrigados a realizar suas tarefas com o auxílio de meios de transporte
alternativos. A logística da cidade também é muito afetada por conta da
limitação dos modais de transporte, o que acaba aumentando subitamente o preço
dos produtos comercializados na região.
Todas
essas limitações decorrentes da falta de acessibilidade e da infraestrutura
restringida pelas questões geográficas da região acabam elevando significativamente
o custo de vida em Veneza. Devido à isso, muitos moradores acabam deixando a
cidade em busca de locais economicamente mais vantajosos para morar, o que vem
despertando cada vez mais o interesse de investidores internacionais na compra
de imóveis para a instalação de hotéis e resorts
na região, comprovando o grande potencial turístico que está por trás da
cativante cidade de Veneza.
Em
síntese, todos os obstáculos encontrados pelos venezianos ao longo da
construção de sua história contribuíram para o crescimento e a consolidação da
cidade de Veneza. Sua relação com a água e a necessidade de domá-la fizeram com
que Veneza se transformasse em uma potência turística global, onde a
arquitetura antiga e a modernidade transitam juntas em um ambiente romântico e encantador,
criando o cenário ideal para o desenrolar de uma arrebatadora história de amor
ou até mesmo de uma sofisticada taça de vinho no pôr do sol.
Punta
della Dogana, Veneza
Referências
ARCHDAILY.
Cidade versus água: entenda como Veneza foi construída. Disponível em:
<https://www.archdaily.com.br/br/908233/cidade-versus-agua-entenda-como-veneza-foi-construida>.
Acesso em: 08/09/2021.
SUPER INTERESSANTE. Como e quando foi construída a cidade de
Veneza? Disponível em: < https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-e-quando-foi-construida-a-cidade-de-veneza/>.
Acesso em 08/09/2021.
ITALIA PER AMORE. Como Veneza foi construída? Disponível
em: <http://italiaperamore.com/como-veneza-foi-construida/>. Acesso em 09/09/2021.
ANCIENT ORIGINS. The
construction of Venice, the Floating City. Disponível em: <https://www.ancient-origins.net/ancient-places-europe/construction-venice-floating-city-001750>.
Acesso em: 09/09/2021.
UNESCO. Venice and its Lagoon. Disponível em: <https://whc.unesco.org/en/list/394>.
Acesso em: 09/09/2021.