segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Primeiro do Brasil x Primeiro do Mundo

Curitiba sempre foi considerada uma cidade ícone no Brasil, seja por sua limpeza, pela grande área verde ou até mesmo pela organização, ela sempre foi vista como destaque. Todavia, o que mais chama atenção na capital ecológica não é nenhum dos itens citados, e sim o seu sistema de transporte público, dito por muitos como o melhor do país.

Invejados por aqueles que vêm de outras cidades e criticados por quem lá vive, os ônibus de Curitiba são polêmicos. Para entender se o transporte coletivo da capital paranaense deixa desejar, como apontam alguns curitibanos, ou se é realmente eficiente, basta analisar o panorama geral do transporte público Brasil afora, bem como compreender o sistema de transporte urbano da própria cidade. 

Outrora ditos como inovadores, os ônibus biarticulados e as estações tubo, implantados em 1974, já caíram em normalidade. Para quem vive em Curitiba, não há nada de inovador em um sistema mal administrado, com praticamente apenas um modal e um monopólio nas mãos da URBS (empresa responsável pelos ônibus), que se sustenta na propaganda de melhor transporte público de um país que possui um dos piores sistemas de transporte urbano do mundo. O que se observa na capital paranaense é o mesmo que no resto do Brasil: coletivos superlotados, com péssima segurança, de frequência instável, e, acima de tudo, lentos.


Mobilidade

Como, então, Curitiba é tão bem falada quando o assunto é transporte?

A resposta é simples. Quem vem de fora raramente fica tempo o suficiente na cidade para sentir o trauma que é embarcar em um Inter 2 – uma das principais linhas da cidade – ou em qualquer outra linha, em horário de pico. Outro motivo, é a RIT. A Rede Integrada de Transporte Coletivo permite ao usuário a utilização de mais de uma linha de ônibus com o pagamento de apenas uma tarifa, fator que, convenhamos, é de imensa utilidade econômica.

De modo geral, podemos concluir que o sistema de transporte público de Curitiba não é bom, e sim menos pior comparativamente aos demais sistemas no Brasil.
Agora, a grande questão é: O que os demais países, com transporte público eficiente, possuem, que Curitiba não possui?
Para responder a essa pergunta, façamos uma análise comparativa do melhor transporte urbano do Brasil, representado pela própria Curitiba, com o melhor do mundo, o transporte público de Tóquio.

São inúmeras as diferenças existentes entre o coletivo das duas capitais. Podem ser citados como fatores externos que contribuem para bom desempenho do sistema de transporte de Tóquio a segurança, a acessibilidade e até mesmo a educação, no entanto, no que diz respeito ao transporte em si, há dois motivos fundamentais que favorecem à cidade japonesa:

1. A presença de vários modais;

2. Há várias empresas de transporte público na cidade e, portanto, competitividade.



No que diz respeito ao item 1, há um abismo separando as duas cidades. Enquanto o coletivo japonês gira em torno dos modais ferroviário e metroviário - bicicletas, carros e ônibus têm função de meros alimentadores - Curitiba depende única e exclusivamente do transporte rodoviário. A deficiência da representante brasileira é clara, afinal, pouco adianta investir bilhões em ônibus modernos e terminais, ou em projetos falhos de metro, sendo que eles não dão conta de atender a demanda da cidade de forma adequada.

O ponto 2 diz respeito mais às questões econômicas do que de transporte, porém é nítida sua importância. A ausência de competitividade que a URBS detém em Curitiba é refletida na realidade do transporte público, observa-se um transporte acomodado, com funcionários insatisfeitos e carente de alternativas. Nesse quesito, em contrapartida, Tóquio está muito à frente. A existência de várias empresas administrando parte do transporte coletivo garante facilidades incríveis, dificilmente vistas no Brasil. Exemplos de tais utilidades são rotas alternativas nas mesmas linhas, preços divergentes e valores de tarifa proporcionais à distância percorrida que, no caso dos ônibus, funciona mais ou menos assim: A partir de um painel (eletrônico ou não), na parte da frente do ônibus, o passageiro calcula o valor do percurso conforme o ponto de chegada. O pagamento deve ser feito com a quantia exata de dinheiro. Caso seja necessário, há uma máquina de troco ao lado do motorista.


Por fim, analisando de vários pontos de vista, o transporte urbano de Tóquio é muito mais eficiente, completo e complexo do que o sistema empregado em Curitiba, e por consequência, do que as demais cidades brasileiras.

De modo geral, ao contrário do que é dito país afora, é lamentável o atual quadro do transporte público de Curitiba, contudo não é uma realidade irreversível. É difícil? Sim, e muito. Mas não impossível. Basta que seja percebida por governos e administradores a importância do transporte coletivo para o desenvolvimento local, buscando conciliar medidas de conscientização da população, incentivando-a a utilizar o transporte público, através projetos ousados, inovadores e verdadeiramente eficazes de engenharia e arquitetura que tragam novamente para a capital paranaense o título de referência mundial quando o assunto é transporte público de excelência.





Fontes :
http://www.jica.go.jp/; Mobilidade; http://www.portalnikkei.com.br/; http://www.skyscrapercity.com/