São Paulo concorreu com várias cidades do mundo e venceu: a reunião do Sustainable Building and Climate Initiative (SBCI), organismo ligado ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), será realizado na capital paulista nos dias 12 e 13 deste mês.
Dedicado a estudos e pesquisas referentes à construção sustentável e ao clima, o SBCI é o fórum em que são discutidas questões relevantes para que o setor se desenvolva de forma perfeitamente alinhada às premissas da sustentabilidade.
Serão duas iniciativas. Dia 12, ocorre a assembleia dos membros do organismo na sede do Secovi-SP, entidade co-organizadora ao lado do Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), do Ministério das Cidades, da Secretaria da Habitação do Governo do Estado de São Paulo, da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano e da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente, com apoio institucional do Sesc-SP e apoio local da Viação Metropolitana. É uma reunião técnica, em que grupos temáticos analisam diversos assuntos específicos.
Já o segundo dia do evento - e o que é um fato inédito - será aberto ao público. A sede do Sesc-Pinheiros dará lugar a ampla discussão em simpósio sobre o tema Eficiência no Uso de Recursos e Economia Verde: Oportunidades para Edifícios e Cidades Sustentáveis.
Uma vez que o simpósio antecede a Rio+20, estarão presentes figuras emblemáticas dentre aquelas que se destacam no campo da sustentabilidade em âmbito mundial.
O presidente da Unep, Arab Hobollah, vai focalizar o potencial e as oportunidades que um edifício pode gerar em termos de economia, meio ambiente, eficiência no uso de recursos e responsabilidade social. Conforme dados da Unep, o setor da construção representa quase 10% de muitas economias, pois é nas edificações que as pessoas vivem, trabalham e se divertem.
Na visão do Secovi-SP, esse porcentual pode ser maior, tendo em vista que a função econômica dos empreendimentos imobiliários impacta diretamente o Produto Interno Bruto de um país. Isso não na produção dos imóveis, que movimenta diferentes indústrias e emprega milhões de trabalhadores, mas, também, na operação dos edifícios, que absorve elevado quadro de mão-de-obra, e na função que desempenham, além da moradia propriamente dita. São empresas, escritórios de diversos portes, shopping centers, escolas, fábricas, centros de convenção, hospitais, enfim, uma infinidade de equipamentos urbanos que geram divisas.
Ao analisarmos todos os efeitos do funcionamento da indústria imobiliária, teremos aí um cenário extremamente pujante e, ao mesmo tempo, preocupante, avaliados puramente os aspectos da sustentabilidade. Afinal, a operação desses edifícios considera adequadamente os pilares ambiental, econômico e social? Em caso negativo, que medidas podem ser adotadas para mitigar efeitos indesejáveis? O que é possível aplicar nos empreendimentos já em operação? E como projetar novos imóveis que contemplem recursos e soluções sustentáveis?
Outra importante participação no simpósio é a do economista indiano Pavan Sukhdev, apontado como o "Adam Smith da economia verde". Em sua exposição, o economista mostrará como fazer a necessária transição para um sistema econômico sustentável. Ele apregoa "o fim da invisibilidade econômica do meio ambiente", o que, define, "não significa colocar um preço sobre o valor da natureza, mas ampliar a consciência de todos para o custo dos impactos sobre o capital natural e social". Segundo Pavan, a pobreza está conectada à destruição da natureza.
Até que ponto a invisibilidade econômica do meio ambiente pode servir de base à discussão de uma política tecnológica para reduzir o impacto da construção civil? Como poderemos avançar na adoção de produtos e sistemas que, com adequado desempenho, resultem em recintos mais saudáveis e confortáveis, afinados com a teoria econômica que reconhece o valor da preservação?
Não é de hoje que o setor imobiliário está atento a essa questão. O Brasil, inclusive, está entre os líderes em construções sustentáveis. Ocupa a quarta posição no ranking mundial realizado pelo organismo internacional Green Building Council (US GBC), com 524 empreendimentos sustentáveis (54 certificados e 474 deles em processo de certificação).
A Câmara Brasileira da Indústria da Construção desenvolve desde 2009 o Programa Construção Sustentável, no qual o Secovi-SP participa diretamente, visando aperfeiçoar e compartilhar soluções e, principalmente, revelando à sociedade brasileira o compromisso do setor com a sustentabilidade. Nesse programa, são analisados temas como água, desenvolvimento humano, energia, materiais e sistemas, meio ambiente, infraestrutura e desenvolvimento urbano, mudanças climáticas e resíduos.
Afora isso, há inúmeros trabalhos voltados à conscientização do setor, como os realizados pelo sindicato em parceria com o CBCS - Caderno Condutas de Sustentabilidade no Setor Imobiliário Residencial - e a Fundação Dom Cabral - Indicadores de Sustentabilidade no Desenvolvimento Imobiliário Urbano -, ambos disponíveis para download gratuito no portal do Secovi-SP.
Porém, e isso ficará ainda mais evidente do simpósio do SBCI, temos ainda um longo caminho pela frente. Um caminho que começa com dois passos: primeiro, entender a sustentabilidade em seu real sentido; segundo, entender o que é economia verde, a qual, na definição das Nações Unidas, "é aquela que resulta em melhoria do bem-estar humano e da igualdade social ao mesmo tempo em que reduz significativamente os riscos ambientais e a escassez ecológica".
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E, depois de entendermos claramente o significado de tudo isso, é preciso saber como colocar em prática. Resumindo: estamos diante de um imenso processo, que envolve ampla complexidade, inúmeras dificuldades e, principalmente, máxima boa vontade. Só uma coisa é certa: é irreversível. Estamos no caminho sem volta da sustentabilidade e tudo o que a construção deseja é contar com instrumentos adequados, inclusive em termos de normas, leis e política públicas, que lhe permitam chegar ao destino almejado por todos. Confiamos que o simpósio do SBCI/Unep proporcionará valiosos ensinamentos para facilitar essa decisiva jornada.