sexta-feira, 12 de março de 2021

O PET em minha vida

 Por Lucas Ghion Zorzan

    Escrever sobre o papel do PET na minha vida pessoal, profissional e pessoal é, em certa medida, tratar de um processo de crescimento e autoconhecimento contínuo. Hoje, quando olho para os meus primeiros dias com o meu grupo PET em março de um ano já distante quase seis anos de agora, vejo um claro processo de evolução e aprendizado. Decidi por me envolver no Programa por um desejo ainda iniciante pela docência e uma curiosidade pela Universidade que até pouco tempo era uma realidade um tanto quanto idealizada. Ter a oportunidade de ativamente participar de atividades que exigiriam mais do que os conhecimentos técnicos é algo que, em geral, atrai poucas pessoas iniciantes em cursos de graduação. O técnico é interessante, atraente, desafiador – mas também o são conceitos de trabalho em equipe, aprendizado constante, gerenciamento, inteligência emocional e organização. Enquanto somos muito bem servidos de conhecimentos técnicos por professores capacitados, as outras características são dependentes do nosso nível de comprometimento com o desenvolvimento pessoal. E fazer parte do PET pode ser simplificado por este simples substantivo abstrato: compromisso. Consigo, com sua Universidade, com o ensino superior e o papel social das instituições públicas, com a pesquisa e a extensão.

    Durante os mais de dois anos enquanto petiano, tive a oportunidade de participar do planejamento e execução de diversos projetos que oportunizaram tanto que seria difícil abordar tudo em um único texto. Minha primeira responsabilidade no PET foi preparar um modelo de apresentação (fica a dica: uma boa apresentação é absolutamente essencial independente do caminho que seguimos) para um evento consideravelmente grande que realizaríamos em breve. O resultado não foi nem um pouco perto do esperado – cheguei à triste conclusão de que se não tivesse um modelo de apresentação teria sido melhor – e foi a primeira percepção de que havia muitas coisas a aprender além do círculo de Mohr (embora acredite que seja uma ferramenta genial).

    Com colegas (e até hoje amigos) incríveis, realizamos campanhas de inspeções em edifícios da Universidade, passamos incríveis sufocos que rendem histórias e risadas até hoje e pudemos escrever, pela primeira vez, artigos para Congressos técnicos. É raro encontrar alunos de graduação participando de atividades assim ainda no segundo ano do curso e hoje costumo brincar que foi algo definidor de caráter. Essas atividades não ensinaram apenas a realizar ensaios de durabilidade em concreto ou realizar pesquisas bibliográficas; ensinaram a lidar com o trabalho em equipe, a concepção de programas de investigação adequados, a organização das ideias para constituir algo bem definido, as técnicas de oratória e comunicação interpessoal. Desse pontapé inicial, diversos novos desafios surgiram: uma Iniciação Científica que deu, de certa forma, rumo aos caminhos que optei por seguir; novos projetos, alguns bem sucedidos, alguns frustrados, mas que trazem todos um sentimento de dever cumprido.

    Costumava dizer aos meus contemporâneos de grupo que a experiência PET se assemelhava a uma função seno, só que com domínio do tempo: com altos e baixos periódicos. Os altos envolvem momentos de sucesso, de percepção e desenvolvimento de autoconfiança; nos baixos, a capacidade de lidar com a frustração, com as dificuldades inerentes a todas as atividades. É fácil perceber que nesta trajetória o aprendizado acumulado está muito relacionado ao fato de a zona de conforto não ser uma situação usual.

Sentimento do Sucesso (Autoria Própria)

    Deixei o PET com o coração apertado, mas tranquilo, sentindo que era o momento de novos desafios. O aperto vinha do apreço que tinha (e tenho) por tudo que lá vivi; a tranquilidade pela certeza de que o Programa faria (e faz) a diferença na vida de diversas outras pessoas. Nos meus próximos passos, nem precisei sair do CESEC: fui direto para o laboratório de solos (onde permaneço até hoje, mesmo que em locais distintos) e de lá para a vida profissional. As habilidades de autonomia no aprendizado, gestão do tempo, organização e comunicação desenvolvidas anteriormente permitiram que os muitos desafios que o estágio e, na sequência, o trabalho, apresentaram a mim fossem superados, tornando a experiência técnica ainda mais enriquecedora.

    Percebi, na minha ainda pequena experiência, que poucas pessoas chegam ao final do curso preparadas para certas situações e com confiança nas suas habilidades. Não acredito que os petianos que conheci – dentre os quais me incluo - tenham superado esta dificuldade na totalidade, mas reconheço um esforço que, em alguma medida, se transformou em diferencial. Um diferencial sutil, que nos torna mais críticos, mais sensíveis e abertos à crítica, mais comunicativos e comprometidos com as causas. Acho que é minha obrigação ratificar que desenvolver estas habilidades não é uma exclusividade do PET; o que me chama atenção e acredito fazer toda a diferença é que o Programa oportuniza isso a diversas e diferentes pessoas – e muda vidas. Posso afirmar sem titubear que participar do grupo foi o principal fator que condicionou meu atual caminho profissional como Engenheiro Civil e pesquisador. As características que nos são estimuladas durante o caminho percorrido no PET permanecem ‘no sangue’ e com o tempo passam a fazer parte do nosso ser.

    Hoje, enquanto escrevo este texto a pedido de um professor que tem um lugar bastante importante na minha formação, deixo de lado por alguns momentos as atividades que me esperam em prol desta reflexão sobre o papel transformador que certas escolhas têm em nossas vidas. Sigo meu caminho como aluno de mestrado em Engenharia Civil – agora em outra instituição, o que de certa forma vejo como um resquício da necessidade de estar fora da zona de conforto –, ainda com o desejo de ser professor que há alguns anos me levou ao PET. Embora não lembre explicitamente da minha trajetória no PET quando preciso resolver alguma equação diferencial parcial ou na dedução da equação do elemento finito, ela está lá: no desejo incessante de aprender, no interesse e persistência, na superação de dificuldades e na visão global de problemas que não são triviais.

    Fui integrante do PET Engenharia Civil da Universidade Federal do Paraná de março de 2015 a julho de 2017, mas até hoje sou constantemente influenciado pelo petiano que sempre serei. E sou grato por isso.

(Foto Autoral)