Por Lucas Ghion Zorzan
Escrever
sobre o papel do PET na minha vida pessoal, profissional e pessoal é, em certa
medida, tratar de um processo de crescimento e autoconhecimento contínuo. Hoje,
quando olho para os meus primeiros dias com o meu grupo PET em março de um ano
já distante quase seis anos de agora, vejo um claro processo de evolução e
aprendizado. Decidi por me envolver no Programa por um desejo ainda iniciante
pela docência e uma curiosidade pela Universidade que até pouco tempo era uma
realidade um tanto quanto idealizada. Ter a oportunidade de ativamente
participar de atividades que exigiriam mais do que os conhecimentos técnicos é
algo que, em geral, atrai poucas pessoas iniciantes em cursos de graduação. O
técnico é interessante, atraente, desafiador – mas também o são conceitos de trabalho
em equipe, aprendizado constante, gerenciamento, inteligência emocional e
organização. Enquanto somos muito bem servidos de conhecimentos técnicos por
professores capacitados, as outras características são dependentes do nosso
nível de comprometimento com o desenvolvimento pessoal. E fazer parte do PET
pode ser simplificado por este simples substantivo abstrato: compromisso.
Consigo, com sua Universidade, com o ensino superior e o papel social das
instituições públicas, com a pesquisa e a extensão.
Durante
os mais de dois anos enquanto petiano, tive a oportunidade de participar do
planejamento e execução de diversos projetos que oportunizaram tanto que seria
difícil abordar tudo em um único texto. Minha primeira responsabilidade no PET
foi preparar um modelo de apresentação (fica a dica: uma boa apresentação é
absolutamente essencial independente do caminho que seguimos) para um evento
consideravelmente grande que realizaríamos em breve. O resultado não foi nem um
pouco perto do esperado – cheguei à triste conclusão de que se não tivesse um
modelo de apresentação teria sido melhor – e foi a primeira percepção de que
havia muitas coisas a aprender além do círculo de Mohr (embora acredite que
seja uma ferramenta genial).
Com
colegas (e até hoje amigos) incríveis, realizamos campanhas de inspeções em
edifícios da Universidade, passamos incríveis sufocos que rendem histórias e
risadas até hoje e pudemos escrever, pela primeira vez, artigos para Congressos
técnicos. É raro encontrar alunos de graduação participando de atividades assim
ainda no segundo ano do curso e hoje costumo brincar que foi algo definidor de
caráter. Essas atividades não ensinaram apenas a realizar ensaios de
durabilidade em concreto ou realizar pesquisas bibliográficas; ensinaram a
lidar com o trabalho em equipe, a concepção de programas de investigação
adequados, a organização das ideias para constituir algo bem definido, as
técnicas de oratória e comunicação interpessoal. Desse pontapé inicial, diversos
novos desafios surgiram: uma Iniciação Científica que deu, de certa forma, rumo
aos caminhos que optei por seguir; novos projetos, alguns bem sucedidos, alguns
frustrados, mas que trazem todos um sentimento de dever cumprido.
Costumava
dizer aos meus contemporâneos de grupo que a experiência PET se assemelhava a
uma função seno, só que com domínio do tempo: com altos e baixos periódicos. Os
altos envolvem momentos de sucesso, de percepção e desenvolvimento de
autoconfiança; nos baixos, a capacidade de lidar com a frustração, com as
dificuldades inerentes a todas as atividades. É fácil perceber que nesta
trajetória o aprendizado acumulado está muito relacionado ao fato de a zona de
conforto não ser uma situação usual.
Deixei o PET com o coração apertado, mas tranquilo, sentindo que era o momento de novos desafios. O aperto vinha do apreço que tinha (e tenho) por tudo que lá vivi; a tranquilidade pela certeza de que o Programa faria (e faz) a diferença na vida de diversas outras pessoas. Nos meus próximos passos, nem precisei sair do CESEC: fui direto para o laboratório de solos (onde permaneço até hoje, mesmo que em locais distintos) e de lá para a vida profissional. As habilidades de autonomia no aprendizado, gestão do tempo, organização e comunicação desenvolvidas anteriormente permitiram que os muitos desafios que o estágio e, na sequência, o trabalho, apresentaram a mim fossem superados, tornando a experiência técnica ainda mais enriquecedora.
Percebi, na minha ainda pequena experiência, que poucas pessoas chegam ao final do curso preparadas para certas situações e com confiança nas suas habilidades. Não acredito que os petianos que conheci – dentre os quais me incluo - tenham superado esta dificuldade na totalidade, mas reconheço um esforço que, em alguma medida, se transformou em diferencial. Um diferencial sutil, que nos torna mais críticos, mais sensíveis e abertos à crítica, mais comunicativos e comprometidos com as causas. Acho que é minha obrigação ratificar que desenvolver estas habilidades não é uma exclusividade do PET; o que me chama atenção e acredito fazer toda a diferença é que o Programa oportuniza isso a diversas e diferentes pessoas – e muda vidas. Posso afirmar sem titubear que participar do grupo foi o principal fator que condicionou meu atual caminho profissional como Engenheiro Civil e pesquisador. As características que nos são estimuladas durante o caminho percorrido no PET permanecem ‘no sangue’ e com o tempo passam a fazer parte do nosso ser.
Hoje,
enquanto escrevo este texto a pedido de um professor que tem um lugar bastante
importante na minha formação, deixo de lado por alguns momentos as atividades
que me esperam em prol desta reflexão sobre o papel transformador que certas
escolhas têm em nossas vidas. Sigo meu caminho como aluno de mestrado em
Engenharia Civil – agora em outra instituição, o que de certa forma vejo como
um resquício da necessidade de estar fora da zona de conforto –, ainda com o
desejo de ser professor que há alguns anos me levou ao PET. Embora não lembre explicitamente
da minha trajetória no PET quando preciso resolver alguma equação diferencial
parcial ou na dedução da equação do elemento finito, ela está lá: no desejo
incessante de aprender, no interesse e persistência, na superação de
dificuldades e na visão global de problemas que não são triviais.
Fui
integrante do PET Engenharia Civil da Universidade Federal do Paraná de março
de 2015 a julho de 2017, mas até hoje sou constantemente influenciado pelo
petiano que sempre serei. E sou grato por isso.