sexta-feira, 8 de março de 2019

Barragens de rejeitos e seus métodos de construção

Por Náthali Giacomini

      Devido às tragédias recentes que aconteceram no Brasil, muito tem se falado sobre as barragens de rejeitos. Nesta matéria, explicaremos um pouco mais sobre o que são elas e quais são os principais tipos.

O que são as barragens de rejeitos?

    São estruturas de grande porte que tem como função a retenção de resíduos sólidos e água provenientes de processos de extração de minérios. O armazenamento desses rejeitos é necessário para evitar danos ambientais.

       Os rejeitos, por sua vez, podem ser de dois tipos: o fino, também chamado de argila, que possui baixa permeabilidade e alta compressibilidade e o granular, que é composto por areias finas e médias, possui alta permeabilidade, baixa compressibilidade e pode ser utilizados inclusive para a construção da própria barragem. 

       Uma vez dispostos nas barragens, os rejeitos passam por duas fases. A primeira delas é a fase de construção, na qual ocorre sedimentação e compressão imediata, além de adensamento e filtração. Passado esse processo de acomodação inicial dos rejeitos, vem a segunda fase, na qual ocorre, então, a dessecação e dessaturação. É nesta etapa que a barragem tem a sua vida útil.

      Já o armazenamento funciona da seguinte maneira: inicialmente é construído um dique de partida, que funciona como uma barragem de contenção comum. Porém, em determinado momento, torna-se necessário ampliar a capacidade da barragem, e isto é feito através de um procedimento conhecido como alteamento, no qual são construídos diques adicionais de modo que a barragem se torne mais alta e, assim, possa armazenar mais rejeitos. Existem três métodos principais de alteamento:


Método de alteamento a montante

       É o método com custo mais baixo. Consiste no depósito dos rejeitos hidraulicamente até a crista (parte superior) do dique de partida, formando assim uma “praia de rejeitos” que, com o tempo, se adensa e serve de fundação para os próximos diques de alteamento, que são construídos com o próprio material do rejeito. Esse processo se repete até que seja atingida a altura máxima de alteamento prevista. Apesar de ser um procedimento mais simples e mais barato, é também o menos seguro e, por conta disso, já foi proibido em países como o Chile e Peru. No Brasil, após o rompimento da barragem de Brumadinho e, anteriormente, de Mariana, foi publicada uma resolução por parte do governo que determina que as barragens a montante e método desconhecido - que totalizam 88 - devem ser eliminadas até 2021 no caso das desativadas e até 2023 no caso das em funcionamento. 




Fonte: Época Negócios



Método de alteamento a jusante 

     Da mesma forma que o método de alteamento a montante, os rejeitos são depositados hidraulicamente até a crista do dique de partida. Conforme é alcançado a borda livre desse dique, são feitos alteamentos sucessivos para jusante (parte “posterior” à barragem). A vantagem desse método é que a altura não precisa ser restringida em prol da estabilidade, sendo a área do terreno disponível o único limitante da altura final da barragem. Por outro lado, a construção desse método mais conservador possui maior custo, tanto por causa do volume de aterro necessário quanto por causa da grande área que ocupa. O Brasil possui 151 barragens de alteamento a jusante. 


Fonte: Época Negócios

Método de alteamento da linha de centro


      É um intermédio entre os dois métodos apresentados anteriormente. Da mesma forma que o método a montante, os rejeitos são lançados a partir da crista do dique inicial e, assim como o primeiro, os alteamentos são construídos com diques sucessivos. A principal diferença entre eles então, é que no método da linha de centro é mantido o eixo de simetria da barragem constante, o que garante maior estabilidade que o método a montante sem necessitar de tanto material e espaço quanto o método a jusante. É considerado o método mais seguro para a construção de barragens. O Brasil possui apenas 37 barragens construídas por esse método.

Fonte: Época Negócios


      A importância dessas barragens não pode ser negada. Até que seja encontrada uma forma eficiente de reaproveitar os rejeitos, é de comum acordo que eles devem ser armazenados e não lançados ao meio ambiente. Entretanto, como foi mostrado, há formas mais seguras de construí-las do que o método a montante que, felizmente, a partir de agora não poderá mais ser utilizado no nosso país.

Referências:

JULIO, RENNAN A. “Modelo de barragem usado em Brumadinho e Mariana é o mais barato e menos seguro”. Disponível em . Acesso em 07 de março de 2019.

ERDELYI, MARIA FERNANDA; CAVALLINI, MARTA. “Governo determina eliminação de barragens como a de Brumadinho até 2021”. Disponível em . Acesso em 07 de março de 2019.

TREVIZAN, ALVARENGA; TREVIZAN, KARINA. “Brasil tem 88 barragens do tipo 'a montante ou desconhecido', metade com alto potencial de dano, diz agência”. Disponível em:. Acesso em 07 de março de 2019.

INSTITUTO TECNOLÓGICO VALE. “Tecnologia de Barragens e Disposição de Rejeitos”. Disponível em . Acesso em 08 de março de 2019.