Por Náthali Giacomini
Devido às tragédias recentes que aconteceram no Brasil, muito tem se falado sobre as barragens de rejeitos. Nesta matéria, explicaremos um pouco mais sobre o que são elas e quais são os principais tipos.
O que são as barragens de rejeitos?
São estruturas de grande porte que tem como função a retenção de resíduos sólidos e água provenientes de processos de extração de minérios. O armazenamento desses rejeitos é necessário para evitar danos ambientais.
Os rejeitos, por sua vez, podem ser de dois tipos: o fino, também chamado de argila, que possui baixa permeabilidade e alta compressibilidade e o granular, que é composto por areias finas e médias, possui alta permeabilidade, baixa compressibilidade e pode ser utilizados inclusive para a construção da própria barragem.
Uma vez dispostos nas barragens, os rejeitos passam por duas fases. A primeira delas é a fase de construção, na qual ocorre sedimentação e compressão imediata, além de adensamento e filtração. Passado esse processo de acomodação inicial dos rejeitos, vem a segunda fase, na qual ocorre, então, a dessecação e dessaturação. É nesta etapa que a barragem tem a sua vida útil.
Já o armazenamento funciona da seguinte maneira: inicialmente é construído um dique de partida, que funciona como uma barragem de contenção comum. Porém, em determinado momento, torna-se necessário ampliar a capacidade da barragem, e isto é feito através de um procedimento conhecido como alteamento, no qual são construídos diques adicionais de modo que a barragem se torne mais alta e, assim, possa armazenar mais rejeitos. Existem três métodos principais de alteamento:
Método de alteamento a montante
É o método com custo mais baixo. Consiste no depósito dos rejeitos hidraulicamente até a crista (parte superior) do dique de partida, formando assim uma “praia de rejeitos” que, com o tempo, se adensa e serve de fundação para os próximos diques de alteamento, que são construídos com o próprio material do rejeito. Esse processo se repete até que seja atingida a altura máxima de alteamento prevista. Apesar de ser um procedimento mais simples e mais barato, é também o menos seguro e, por conta disso, já foi proibido em países como o Chile e Peru. No Brasil, após o rompimento da barragem de Brumadinho e, anteriormente, de Mariana, foi publicada uma resolução por parte do governo que determina que as barragens a montante e método desconhecido - que totalizam 88 - devem ser eliminadas até 2021 no caso das desativadas e até 2023 no caso das em funcionamento.
Fonte: Época Negócios
Método de alteamento a jusante
Da mesma forma que o método de alteamento a montante, os rejeitos são depositados hidraulicamente até a crista do dique de partida. Conforme é alcançado a borda livre desse dique, são feitos alteamentos sucessivos para jusante (parte “posterior” à barragem). A vantagem desse método é que a altura não precisa ser restringida em prol da estabilidade, sendo a área do terreno disponível o único limitante da altura final da barragem. Por outro lado, a construção desse método mais conservador possui maior custo, tanto por causa do volume de aterro necessário quanto por causa da grande área que ocupa. O Brasil possui 151 barragens de alteamento a jusante.
Fonte: Época Negócios
Método de alteamento da linha de centro
É um intermédio entre os dois métodos apresentados anteriormente. Da mesma forma que o método a montante, os rejeitos são lançados a partir da crista do dique inicial e, assim como o primeiro, os alteamentos são construídos com diques sucessivos. A principal diferença entre eles então, é que no método da linha de centro é mantido o eixo de simetria da barragem constante, o que garante maior estabilidade que o método a montante sem necessitar de tanto material e espaço quanto o método a jusante. É considerado o método mais seguro para a construção de barragens. O Brasil possui apenas 37 barragens construídas por esse método.
Fonte: Época Negócios
A importância dessas barragens não pode ser negada. Até que seja encontrada uma forma eficiente de reaproveitar os rejeitos, é de comum acordo que eles devem ser armazenados e não lançados ao meio ambiente. Entretanto, como foi mostrado, há formas mais seguras de construí-las do que o método a montante que, felizmente, a partir de agora não poderá mais ser utilizado no nosso país.
Referências:
JULIO, RENNAN A. “Modelo de barragem usado em Brumadinho e Mariana é o mais barato e menos seguro”. Disponível em . Acesso em 07 de março de 2019.
ERDELYI, MARIA FERNANDA; CAVALLINI, MARTA. “Governo determina eliminação de barragens como a de Brumadinho até 2021”. Disponível em . Acesso em 07 de março de 2019.
TREVIZAN, ALVARENGA; TREVIZAN, KARINA. “Brasil tem 88 barragens do tipo 'a montante ou desconhecido', metade com alto potencial de dano, diz agência”. Disponível em:. Acesso em 07 de março de 2019.
INSTITUTO TECNOLÓGICO VALE. “Tecnologia de Barragens e Disposição de Rejeitos”. Disponível em . Acesso em 08 de março de 2019.