segunda-feira, 28 de maio de 2012

Bateria elétrica da Europa está nos Alpes suíços

Muitos países europeus decidiram abandonar o átomo e investir em energias renováveis, embora muito irregulares como o vento e o sol. Os reservatório de acumulação de água dos Alpes suíços podem compensar a flutuação das energias eólica e solar na Europa.

Os reservatórios de acumulação de água representam a tecnologia mais
econômica para estocar grandes quantidades de energia

Montanha nevada, geleira, riachos gelados que descem para o vale, rios que banham e irrigam o solo europeu: os Alpes suíços sempre foram uma das fontes de água mais importantes da Europa. No futuro poderão servir ainda de fonte energética para estocar e redistribuir eletricidade a outros países europeus nas horas de maior demanda.

A estocagem de energia elétrica constitui de fato um dos principais problemas a serem resolvidos nas próximas décadas. Para lutar contra as mudanças climáticas, os países da União Europeia (UE) fixaram objetivos ambiciosos: até 2020, a energia renovável deve fornecer 20% da energia total consumida e 33% da eletricidade. Essa quota deve aumentar sensivelmente até 2050, até porque vários países europeus decidiram renunciar à energia atômica.

O abandono do nuclear e a redução do consumo de combustíveis fósseis serão compensadas pelas energias eólica e solar. Essas duas formas de energia são limpas, mas bastante irregulares e imprevisíveis. Como garantir o abastecimento de eletricidade quando falta sol e vento? 


Grande reserva de eletricidade

“Graças à sua posição central e à capacidade flexível de produzir energia hídrica, a Suíça pode ter um papel importante na distribuição de eletricidade aos consumidores da UE, quando não tem vento no norte da Europa e falta sol no Sul”, já havia sublinhado o antigo Comissário Europeu para a Energia, Günther Oettinger.

De fato, nas montanhas suíças existem quase 200 reservatórios de acumulação e bombeamento de água, que representam a tecnologia mais barata e eficaz para armazenar grande quantidade de energia elétrica. Represas e lagos artificiais podem ser enchidos e a água depois desce para a planície para produzir eletricidade no momento de carência de outra fonte energética.

Hoje essas centrais são usadas para regular a produção de energia elétrica na Suíça, mas no futuro podem ainda compensar a lacuna energética que ocorre em outros países europeus. Em relatório apresentado em 28 de abril, último sobre a nova estratégica energética 2050, o governo suíço propõe utilizar esse sistema de acumulação e de bombeamento como bateria elétrica para a Europa.


Novos projetos


Do momento que a construção de novos lagos artificiais nos Alpes provoca grandes oposições, o governo antevê um grande potencial de desenvolvimento nas centrais a bombeamento de água. A este sistema podem ser acrescidos os reservatórios já existentes.

Atualmente, a central de bombeamento produz produz 1,5 TWh (Terawatts). Estão em fase de projeto ou construção 5 instalações que deverão aumentar a produção para 7,5 TWh. Entre eles está um sistema de bombeamento entre o Lago de Posquiavo e o Lago Branco, no cantão dos Grisões (leste), com custo estimado em 1,5 bilhão de francos.

“A vantagem dessa instalação é que a água pode ser bombeada para cima quando há uma muita produção de energia a preço baixo. A água desce de novo ao vale quando há pouca produção de eletricidade e o preço sobe”, explica Marianne Zünd, porta-voz da Secretaria Federal de Energia (UFE).


Acordo com a UE


A diferença entre as tarifas alta e baixa deve aumentar no futuro, tendo em conta o fato que a energia solar e eólica serão muito mais flutuantes do que a produzida pelas usinas nucleares. Nesse ótica, deve ser possível amortizar os altos investimentos e a perda energética do processo de bombeamento – cerca de 25% da energia gerada pela turbina.

O governo suíço, em todo caso, parece convencido. Em 1° de maio, a ministra da Energia - Doris Leuthard - assinou uma declaração com os ministros da Alemanha e da Áustria em que os três países se comprometem a potencializar as centrais de acumulação com sistemas de bombeamento. De preferência, essas usinas serão construídas na Suíça e na Áustria e serão utilizadas para compensar as flutuações energéticas da Alemanha. “Temos pressa”, afirma Mariane Zünd.

“De outra maneira a Suíça corre o risco de ficar de fora da nova grande rede de transporte de eletricidade  (Supergrid), que os 27 países da UE já estão projetando.”


Ceticismo dos ecologistas


O plano do governo de potencializar a energia hídrica provoca oposição de organizações ambientalistas, que ameaçam lançar uma iniciativa popular para proteção da água e da natureza. Na opinião delas, uma excessiva exploração energética da água prejudica o turismo, que utiliza justamente o argumento da beleza dos rios e dos lagos suíços.

Os sistemas de bombeamento suscitam ainda ceticismo do ponto de vista econômico e energético. “Atualmente, para transportar eletricidade da Holanda para a Suíça, e vice-versa, perde-se 20% da energia. Outros 25% são perdidos no bombeamento. Resta saber se o que sobra desse processo será realmente rentável”, afirma Jürg Buri, diretor da Fundação Suíça da Energia.

“A estratégia 'Bateria para a Europa' pode funcionar somente quando será implantada a rede Supergrid, com uma tecnologia capaz de reduzir as perdas do transporte e se todos os países interessados estiverem associados. Mas, com a crise atual da dívida na Europa, é preciso saber quando essa estrutura será realizada”, sublinha Buri.

De acordo com o especialista, ao invés de projetos transnacionais, as autoridades deveriam apoiar o desenvolvimento das energias renováveis para garantir o abastecimento nacional nas próximas décadas. Ainda não está claro como a Suíça poderá renunciar, até 2034 como previsto, à energia nuclear. “Com esses projetos europeus, o governo quer sobretudo agradar aos grandes produtores de eletricidade, que poderão assim compensar o fechamento das centrais nucleares e continuar a exportar energia.”