Por Gabriel Paula Soares
O desenvolvimento de novas tecnologias é cada vez mais recorrente no mercado profissional. A cada geração são criadas novas formas de solucionar os problemas rotineiros, o que pode ser muito bom para o desenvolvimento sustentável da sociedade - mas, para que tais tecnologias sejam implementadas otimamente, deve haver um planejamento estratégico com pessoas especializadas no assunto.
Na área da engenharia civil não é diferente. Até o século XX, os projetos construtivos eram realizados à mão, trazendo dificuldade aos projetistas para a leitura e para a integração de projetos. Com a invenção do computador, surgiram softwares que imitavam a forma de projetar à mão - facilitadores do desenho - como o AutoCAD; essa tecnologia encontrou resistência em seu início, mas no decorrer do tempo ela ganhou o espaço dos desenhos à mão. Hoje, não existe empresa de engenharia que realize seus projetos da maneira primordial.
Entretanto, o desenvolvimento tecnológico não parou por aí - ao contrário, ele cresceu de maneira exponencial. Com isso, surgiram formas mais eficientes de se projetar. Nesse âmbito, o que há de mais moderno hoje é a tecnologia BIM.
O que é BIM?
BIM é uma tecnologia de modelagem de projetos, cuja inovação está na automação do uso da informação. Com ela, atribui-se valores e informações aos elementos de projeto, tornando a tomada de decisões muito mais precisa e facilitando a leitura em obra; além disso, o BIM pode simular e compatibilizar várias soluções para um mesmo problema.
BIM 7D
O BIM pode ser utilizado em até 7 dimensões. As três primeiras são as espaciais (largura x comprimento x altura), uma vez que a representação da construção é em três dimensões. Cada uma das restantes representa uma função BIM:
- 4D: análise temporal da obra;
- 5D: análise quantitativa do material e dos custos;
- 6D: análise de sustentabilidade;
- 7D: gestão e manutenção da obra;
A partir disso, entende-se o BIM como uma ferramenta completamente inovadora de gerenciamento de projetos; numa obra sem o BIM, cada uma das funções acima seriam executadas por diversas ciclos de trabalhos diferentes. A grande vantagem do BIM é a diminuição de fluxos de trabalho, trazendo economia à empresa contratante e aumentando a qualidade final da obra.
Paradigma BIM
Como já foi citado anteriormente, é natural que novas tecnologias encontrem barreiras em seu período de implantação. No caso, o BIM encontra resistência da comunidade devido ao alto custo (monetário e temporal) de profissionalização do gerente de projetos, ao alto preço cobrado periodicamente pelas empresas de software, e também devido ao fato do mercado já estar adaptado às tecnologias anteriores.
Sendo assim, cabe ao governo proporcionar uma condição favorável para implantação dessa tecnologia, favorecendo start-ups que utilizam o BIM ou realizando acordos com as empresas de software BIM. Cabe também às universidades proporcionarem atividades de ensino a respeito do BIM, integrando-o às disciplinas vigentes ou ainda reformando a matriz curricular. Mesmo que seja muito difícil um estudante se formar na graduação como um gerente de projetos, é importante que ele já esteja familiarizado com alguns aspectos do BIM ao entrar no mercado profissional.
BIM no Brasil
Nesse contexto, o Brasil caminha lentamente para a inserção integral do BIM em seu mercado. Em 2018, o governo Temer assinou um Decreto a respeito de metas e prazos para implementação da tecnologia. Entretanto, não realizou acordos com empresas de software ou cursos profissionalizantes em BIM, algo que poderia ser importante.
Ex-presidente Temer assinando o Decreto n° 9377
Além disso, no que se diz integração do BIM nos cursos de graduação, estamos ainda mais defasados. Muitos currículos limitam-se ao CAD, ou apenas introduzem o aluno ao paradigma BIM. Mesmo assim, dentro dessas mesmas universidades - no meio científico-analítico - há o consenso de que a experiência BIM é necessária para a formação do engenheiro moderno, além de derrubar paradigmas culturais que impedem a inovação no ramo da Engenharia Civil.
Percepção dos professores quanto ao ensino do BIM
Foi realizada uma pesquisa com os professores das disciplinas de um curso de graduação em Engenharia Civil no estado de São Paulo, para compreender suas percepções quanto à introdução do BIM no currículo.
Primeiramente, a pesquisa indicou que a maioria dos professores estão a mais de 20 anos atuando no Ensino Superior. Mesmo assim, a grande maioria conhece o BIM, mas não o ensina. Apenas 37% fariam mudanças nas disciplinas para incluir o BIM, e a maior parte deles precisaria de auxílio para isso.
Para os respondentes, itens que seriam necessários para a implementação do BIM na ementa seriam: (a) apoio de colegas; (b) apoio do departamento; (c) apoio dos revendedores de softwares e de empresas; (d) mudanças nas ementas, quanto a conteúdos e metodologia.
Quanto ao ano a ser implementado, os professores tenderam a preferir o primeiro ano. Quando indagados a respeito dos obstáculos de introduzir o BIM no currículo, a maioria dos professores considera que o ensino em BIM não prejudica o pensamento criativo, e também que as universidades já têm potencial de trabalhar em BIM; para eles, a logística de introduzir o BIM no currículo é o mais complicado nessa questão.
Estratégias de inserção do BIM no currículo de Engenharia Civil
Primeiramente, deve-se estar claro que não há “receita de bolo” para inserir o BIM num currículo de Engenharia Civil. O processo é completamente analítico, e cada curso tem suas prioridades e suas particularidades. Mesmo assim, algumas pesquisas foram feitas nesse respeito, e algumas estratégias podem ser citadas.
De acordo com Barison (2006), deve-se inicialmente identificar as disciplinas com potencial BIM. Após, deverá haver uma discussão sobre o currículo. Por fim, propõe-se a utilização do BIM em matérias já existentes. Barison também cita outras sugestões no processo de implantação do BIM:
- Investir na capacitação de professores e de monitores para utilizarem o BIM;
- Desenvolver projetos de iniciação científica em BIM;
- Trabalhar em conjunto com empresas de Arquitetura, Engenharia, Construção e Operação (AECO);
- Capacitar laboratórios;
Já Checcucchi (2014) propõe o ensino do BIM a partir da integração das disciplinas com conhecimentos relativos ao BIM. Além disso, a autora cita um método de aprendizagem ativa (PBL). Com ele, estimula-se a integração de conhecimento e integram diversas virtudes profissionais, além de levar o aluno como principal personagem da própria formação; ele se opõe aos métodos tradicionais de ensino, nos quais as aulas são baseadas em explanação teórica, exemplificação e realização de exercícios.
A autora conclui que o PBL é o método ideal para trabalhar-se com o contexto BIM, uma vez que valoriza o desenvolvimento de competências acima da construção de conhecimentos, proporciona ao aluno uma visão abrangente de uma questão e permite que os alunos lidem com questões atuais, abertas e complexa.
Portanto, compreende -se a necessidade dos cursos de Engenharia Civil incluírem o BIM em sua matriz curricular. Essa tecnologia, que é considerada o futuro da construção civil, está cada vez sendo mais valorizada pelas construtoras, e por isso deve ser introduzida e desenvolvida já na graduação. Entretanto, para haver essa inserção curricular, uma análise deve ser feita por especialistas, sempre considerando as particularidades de cada curso e consultando os professores vigentes.
Referências
Introdução de Modelagem da Informação da Construção (BIM) no currículo – uma contribuição para a formação do projetista (Barison, 2015)
ENSINO-APRENDIZAGEM DE BIM NOS CURSOS DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL E O PAPEL DA EXPRESSÃO GRÁFICA NESTE CONTEXTO (Checcucchi, 2014)
Acesso em 11/03/2020
Acesso em 11/03/2020