Por Cibelle Prado, discente do PET
As cidades começaram a se desenvolver em larga escala a partir da Revolução Industrial, quando a necessidade de mão de obra na indústria passou a ser maior que a do campo, concentrando a população nos centros urbanos, praticamente desprovidos de políticas urbanizadoras.
Assim, em um processo rápido, desconsiderando o conforto de toda a população e consequências ambientais, as áreas urbanas cresceram sem controle e conexão, criando numa mesma cidade, ao longo dos anos, regiões com características distintas. Isso fez com que essas cidades excedessem o “tamanho ideal”, resultando em problemas econômicos que se refletem, por exemplo, no tempo de transporte dos trabalhadores e no abastecimento de água. Somado a isso, os principais empregos não são facilmente difundidos para outras regiões de uma cidade, causando um inchamento urbano na área central, o que degrada o estilo de vida da população e culmina na geração de periferias desassistidas e de difícil administração.
Uma solução é a irradiação de algumas atividades para cidades menores, distribuindo as oportunidades e atraindo o fluxo migratório para elas. Contudo, ainda haveria pessoas migrando para as metrópoles, motivadas pela esperança de uma melhor condição de vida, fazendo com que elas passem a viver, muitas vezes, em condições mais críticas do que as anteriores à migração, pois não há suficiente oferta de oportunidades.
Apesar disso, mesmo que uma cidade surja espontaneamente, ela pode ser beneficiada com um planejamento tardio, melhorando os meios de transporte, o tratamento do lixo e do esgoto e o acesso às escolas, à saúde e ao comércio, por meio do zoneamento (planos diretores) e aprimoramento de serviços públicos.
Porém, quando uma cidade já está estabelecida e sua região central saturada, inicia-se a procura de novas localidades para o estabelecimento de moradias e outros investimentos, como comércios e empresas de prestação de serviços, para atender a demanda. Tais localidades, ainda assim, tendem a não se distanciar do centro e buscam beneficiar uma população com maior capital, introduzindo o problema da Gentrificação, que atrai os maiores investimentos de desenvolvimento em detrimento de outros locais.
Brasília
A atual capital do Brasil não conseguiu ter o seu crescimento previsto nem mesmo por Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, que projetaram uma cidade para 500.000 habitantes em 1960, já pensando a longo prazo.
Mapa do Plano Piloto de Brasília
Fonte: wbrasilia.com
Muitos trabalhadores migraram de outras regiões do país para a construção da cidade e assim, ao término da obra, começaram a se concentrar ao redor da capital, atraindo outros migrantes e criando as cidades-satélite, o que gerou um crescimento populacional desenfreado.
Assim, sem um planejamento contínuo, que acompanha o desenvolvimento da cidade e antecipa possíveis problemas, há uma situação completamente oposta à de Brasília, com condições extremamente desfavoráveis, a poucos quilômetros dali. Esse é o caso da comunidade Sol Nascente, uma das maiores da América Latina, que não possui acesso à infraestrutura básica.
Em 2019, Brasília tem um total de 3 milhões de habitantes, sendo a terceira maior cidade do Brasil, número que, quando somado à população da região metropolitana, chega a quase 4,5 milhões de pessoas.
Mapa interativo do Distrito Federal
Fonte: g1.globo.com
Fonte: g1.globo.com
No mapa acima, a área vermelha representa ocupação habitacional proibida e a em amarelo a invasão de uma área ambiental pelo condomínio Quintas da Alvorada. Esse é o resultado do povoamento nos arredores de Brasília, o qual ocorreu sem preocupação com o meio ambiente ou qualidade de vida da população.
Gentrificação
A gentrificação é um processo urbano caracterizado pelo aumento do valor de um terreno, devido a investimentos públicos ou privados na região em que ele se encontra. Podendo ser chamado de “processo de encarecimento da vida”.
Quando uma cidade está se desenvolvendo e há a procura por locais que sejam mais baratos para um novo empreendimento, as zonas ao redor do centro são as mais procuradas.
Os novos moradores trazem consigo o seu estilo de vida, gerando o interesse do setor privado na área. A construção de prédios residenciais e comerciais de alto padrão atraem mais investimentos para a região, onde os investidores buscam localizações com potencial de valorização, assim trazendo novos mercados, restaurantes e condomínios fechados, por exemplo, de forma a suprir a demanda por variedade de produtos e boa acessibilidade. Deste modo, uma região inteira se torna atrativa para determinadas pessoas e acessível para poucos. Isso resulta em um maior custo de vida, prejudicando os antigos residentes da região, que acabam vendendo seus imóveis e migrando para regiões marginalizadas ou, então, com o encerramento de atividades comerciais tradicionais da região.
O contraste entre os moradores, antigos e novos, e seu estilo de vida.
Fonte: conceitos.com.
Fonte: conceitos.com.
Alguns especialistas consideram a gentrificação algo benéfico, pela atração de investimentos e pela melhoria de regiões degradadas, porém não há como deixar de lado o aumento da desigualdade, a segregação nas cidades e as consequentes expulsões. Esses problemas necessitam ser evitados através de políticas públicas que combatam às diferenças e deem incentivos à educação, além de dar auxílio às famílias prejudicadas, impedindo que mais pessoas migrem para áreas com pouca infraestrutura.
Referências
TONON, Rafael. Como a especulação imobiliária altera a cidade. Disponível em: . Acesso em 19/09/2019.
HONORATO, Ludmila e BERALDO, Paulo. Ótimo plano, péssimo planejamento: os desafios de Brasília após 57 anos. Disponível em: . Acesso em 27/09/2019.
DINO, Daniela. Brasília: 57 anos de cidade, 60 anos do projeto. Disponível em: . Acesso em 27/09/2019.
COSTA, Emmanuel. O que é Gentrificação e por que você deveria se preocupar com isso. Disponível em: . Acesso em 19/09/2019.
PACHECO, Priscilla. Como o planejamento urbano influencia nosso dia a dia. Disponível em: . Acesso em: 19/09/2019.
RODRIGUES, Mateus. Governo lança mapa interativo do DF com dados de geografia e população. Disponível em: . Acesso em 27/09/2019.
ALCÂNTARA, Maurício Fernandes de. 2018. Gentrificação. In: Enciclopédia de Antropologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, Departamento de Antropologia. Disponível em: . Acesso em: 26/09/2019.