Por Alexandre Wolf e
Fernando Scheffer
Você provavelmente
entrou na universidade pensando em uma boa preparação profissional, certo? Conhecer
uma área, se especializar nela e sair tendo as competências certas para se
destacar no mercado é o desejo da maior parte dos estudantes. Mas será que a universidade
está cumprindo esse papel?
A educação tem inúmeros objetivos, sendo o mais importante,
para a maioria das pessoas, a preparação profissional. Em todo o mundo, o
modelo padrão para atender a essas necessidades de educação profissional é o
mesmo: cursos formais e regulamentados de longa duração em que o aluno deve
cumprir determinada carga horária de disciplinas para obter um diploma – as
faculdades. Para diversas carreiras, entre elas as de engenharia, essa solução
é a única – e obrigatória – opção.
No entanto, e apesar do enorme investimento de tempo, energia
e dinheiro por parte de milhões de pessoas cursando faculdades e outros cursos
profissionalizantes, está cada vez mais em evidência o fato de que o sistema de
educação superior atual não cumpre totalmente seu objetivo principal.
Vários estudos mostram que, cada vez mais, estudantes não
possuem as habilidades e conhecimentos necessários para atuar no mercado. Um
relatório da consultoria McKinsey & Company apontou que há uma grande
diferença entre as habilidades que as empresas precisam e a disponibilidade
dessas habilidades no mercado, fato que contribui, em vários países e áreas de
atuação, para a existência simultânea de desemprego e vagas não preenchidas.
Essas lacunas entre a preparação dos estudantes e as
necessidades das empresas e dos clientes é um fenômeno mundial, conhecido como skill gaps. E a tendência, no contexto
da chamada quarta revolução industrial, é que esses gaps fiquem ainda maiores. Como resume o relatório:
“Empregadores, instituições
educacionais e os jovens vivem em universos paralelos”.
Entre as principais razões para essa desconexão estão os currículos
mal estruturados e uso de metodologias de ensino inadequadas, sem nenhuma
personalização.
Apesar da diversidade ilimitada de interesses e de objetivos
individuais, o sistema atual oferece uma gama limitada de soluções e
alternativas educacionais. As pessoas aprendem de diferentes maneiras e têm
diferentes necessidades, mas todo o sistema de educação atual é desenhado para
padronização.
Além do fato de obrigar os estudantes a cursar disciplinas
que não são do seu interesse ou não são diretamente ligadas aos seus objetivos,
a maneira como são estruturados os cursos apresenta uma lógica fragmentada, em
que não se aprende a resolver de forma completa um problema real.
Toda essa falta de alinhamento entre conteúdos e metodologias
e os objetivos profissionais de cada estudante fatalmente resulta em
ineficiências e desperdícios de tempo e de recursos financeiros.
Para se ter uma ideia, de acordo com dados do próprio MEC, um
aluno de universidade federal chega a custar R$ 4 mil por mês. Um curso de
Engenharia Civil, que dura 60 meses, custa portanto R$ 240 mil.
E mesmo com todo o investimento e tempo despendidos, numa era
de mudanças cada vez mais velozes, estamos fazendo cursos ineficientes, em
formatos não muito diferentes daqueles utilizados 50 anos atrás.
Levando em consideração todo esse contexto e tendo como
objetivos ouvir as opiniões dos clientes do curso de Engenharia Civil da UFPR, foi
realizada no primeiro semestre desse ano a aplicação de um questionário online.
O questionário buscou entender suas necessidades e objetivos de carreira
relativos ao produto educacional a eles ofertados, e os resultados são
apresentados a seguir.
Resultados da pesquisa
Foram coletadas ao todo 121 respostas válidas para o
questionário. De maneira geral, conforme mostra a figura abaixo, as
metodologias de ensino foram muito mal avaliadas. Dos participantes, 82%
consideraram elas inadequadas, 48% acreditam que vão usar pouco do que
estudaram e 39% tiveram a percepção de que do total da carga horária em que
estiveram em sala ao longo dos anos, a maior parte não gerou aprendizagem útil para
suas vidas.
Resultados das questões sobre a satisfação geral com o ensino
Fonte: Os Autores
Também foram exploradas perguntas relativas à percepção em
termos de preparação e aprendizagem em áreas específicas. Grande parte das
pessoas respondentes, que em sua maioria estão em final de curso e até mesmo
formadas, declarou que não se sente preparada para exercer atividades básicas
da construção civil, como projetar e gerenciar uma obra.
Além disso, 88% dos entrevistados consideraram não ter
aprendido sobre a área de incorporação e mercado imobiliário. Apesar de ser
parte da prática profissional de muitos dos engenheiros, o tema não é
aprofundado em nenhuma disciplina no curso de Engenharia Civil da UFPR.
Resultados das questões sobre capacitação em construção civil
Fonte: Os Autores
Quando questionados sobre os fatores mais importantes num
curso de formação profissional, a capacitação direcionada para o mercado foi
escolhida por 93% dos participantes, o contato com colegas por 64% e o
networking com profissionais e empresas por 61%.
Por fim, as áreas em que os participantes têm maior interesse
de estudar ainda em 2019 são ‘Incorporação e Mercado Imobiliário’ e ‘BIM e
Projetos Complementares’, ambas escolhidas por metade dos entrevistados.
Resultados das questões de múltipla escolha do questionário
Fonte: Os Autores
O futuro da educação
superior
Levando em consideração os resultados do questionário, bem
como todo o contexto acima apresentado, conclui-se que mudanças na maneira pela
qual se preparam os profissionais do profissionais do futuro são essenciais.
A solução não é simplesmente aplicar uma nova metodologia em
sala de aula ou pedir mais investimentos, mas sim construir novos sistemas de aprendizagem.
Clayton Christensen, professor de Harvard mundialmente
conhecido por sua teoria da Inovação Disruptiva, acredita que o modelo de
negócios das universidades atuais não se sustentará, e que a tendência é que a
educação seja transformada por novos entrantes. Peter Drucker, um dos maiores nomes
da administração moderna, chegou a dizer, em 1997:
“Daqui a 30 anos, os grandes campi
universitários serão relíquias. As universidades não vão sobreviver”.
Evidentemente, a velocidade da mudança está bem menor que a
imaginada por ele. Isso porque é muito difícil prever quando e como exatamente
se darão as transformações no setor. Inclusive, hoje discutem-se vários
possíveis cenários.
5 possíveis cenários para o mercado da Educação em 2030
Fonte: Holon IQ
Existem inúmeras startups e instituições nacionais e
internacionais propondo novas alternativas e soluções educacionais, com cursos
de curta ou média duração, sejam eles online, presenciais ou mesmo híbridos
entre os dois.
O desafio é descobrir quais serão os melhores formatos
educacionais e os modelos de negócio mais bem sucedidos. O que determinará
essas respostas é a constante busca por parte dessas empresas educacionais em
satisfazer as necessidades dos seus clientes ao longo do tempo.
O que se pode afirmar com segurança é que apenas instituições
que de fato oferecerem uma experiência educacional valorosa e útil aos
estudantes, com duração e custos competitivos, irão sobreviver.
Pode-se também dizer que além disso, o modelo de educação do
futuro precisa ser centrado no estudante, ou ao menos dar a ele maior autonomia
nas escolhas. Deveriam existir tipos diferentes de escola para cada tipo de
demanda.
Portanto, se houverem mudanças estruturais, que envolvam uma
combinação de modelos de negócio inovadores, uso inteligente da tecnologia, currículos
mais assertivos e livre concorrência entre sistemas, poderemos ter consideráveis
reduções no preço e duração dos cursos.
E o mais importante: maior customização, qualidade e
resultados na aprendizagem, preparando os alunos de fato para atuar no mercado
de trabalho.
E você, como acha que será a educação do futuro?
Referências
Holon IQ. Education in
2030: The 10 Trillion Dollar Question. Disponível em: https://www.holoniq.com/2030/. Acesso em: 31/08/2019.
As demais referências estão no artigo em anexo, que será
apresentado pelos autores no Congresso Brasileiro de Educação em Engenharia
(COBENGE 2019).