A Geotecnia é o ramo responsável
pelo estudo do comportamento de solos e rochas. Em todos os tipos de
construções civis os engenheiros geotécnicos são necessários, principalmente em
grandes obras como túneis, taludes, barragens e também em fundações e
sondagens, sejam elas de pequeno ou grande porte. O profissional ideal para
esse cargo deve ter um currículo com grande conhecimento teórico, sendo
necessária uma pós-graduação no setor, percepção intuitiva para resolução de
problemas e vasta experiência no canteiro de obras.
As obras mais espetaculares dos
últimos tempos têm grande participação de engenheiros geotécnicos, como o maior
prédio do mundo (Burj Khalifa), as ilhas artificias de Dubai (Palm Islands) e o
túnel de Gothard na Suíça. Este último é uma das grandes obras de arte recentes
da engenharia e revolucionou a construção de túneis. Confira a seguir o
processo construtivo e os motivos pelos quais a obra foi realizada.
Túnel de Gothard:
ligação entre Suíça e Itália
Amenizar o grande fluxo nas
rodovias suíças que causam grandes congestionamento diariamente. Essa foi a
principal motivação para a iniciativa da construção de uma via férrea
interligando Zurique, na Suíça, e Milão, na Itália. No entanto, havia um grande
desafio pelo caminho: os Alpes Suíços.
Túnel de São Gotardo - Suíça
O governo agarrou o desafio e
passou a tarefa para os engenheiros, os quais ao longo de toda a obra priorizaram
soluções que, além de aumentar a eficácia dos serviços, visavam em princípio a
segurança dos trabalhadores. Em 1999, iniciaram-se as escavações na montanha.
Com cerca de 10 metros de diâmetro, o túnel levou quase duas décadas para ser
finalizado - 17 anos, para ser mais preciso.
A escavação nas áreas em que as
rochas eram mais rígidas aconteceu com o uso de enormes fresas, com cabeça de
10 metros de diâmetro, com brocas especiais de trituração, um corpo que podia
alcançar uma altura equivalente a um prédio de 3 andares, devido aos seus
braços hidráulicos que o prendiam no túnel e evitavam que a escavação fosse
lenta e imprecisa, e com comprimento que equivale a 4 estádios de futebol.
Projetado para trabalhar durante 6 anos, 24h por dia e 365 dias por ano, as
brocas foram desenvolvidas especificamente para o tipo de rocha encontrado na
montanha e, quando funcionava, em potência máxima, poderia escavar 40 metros
por dia. As 6 fresas construídas foram responsáveis por quase 80% da escavação,
enquanto os outros 20% ficaram distribuídos nos métodos tradicionais (escavação
manual, equipamentos de menor porte, explosivos, etc.). Além de escavar, as
fresas, também borrifavam concreto liquefeito nas paredes que secavam quase que
instantaneamente para evitar desabamentos. Ainda havia uma esteira por dentro
do equipamento, que transportava as rochas trituradas para trás, na entrada do
túnel, que foram utilizadas para produção do concreto utilizado na construção.
Cerca de 22 toneladas de rocha foram utilizadas e 1,3 milhões de m³ de concreto.
Fresa utilizada na escavação do túnel Gothard
Para maior segurança na
utilização da via foram construídos dois tuneis paralelos, um de ida e outro de
vinda, evitando choques caso algum dos trens descarrilhasse. Foi considerada a
ideia de um terceiro túnel para a caso de alguma urgência e também futuras
manutenções, no entanto, o custo seria muito alto e outra alternativa foi
apresentada e executada. Foram construídos túneis transversais aos paralelos a
cada 350 metros, que interligavam os túneis vai/vem. E também estações ao longo
de todo o trajeto com sistemas de segurança contra incêndio, fumaças e abrigos
para os usuários. Com isso, o túnel de 57 km é considerado o mais seguro do
mundo.
Em 2011, a etapa de escavações
foi finalizada e o foco foi para a infraestrutura. Ao todo, mais de 2000
trabalhadores se esforçaram para a obra ser entregue no prazo. O revestimento
feito nas paredes foi executado por etapas e camadas. Por ser um ambiente com
vários pontos em que havia fontes de água pura, foi utilizada na primeira
camada uma malha entrelaçada branca para o escoamento da água (a água atravessa
a malha e caí num sistema de drenagem armazenado no fundo do túnel), na segunda
camada placas de plástico sólido foram fixados para isolar camadas
remanescentes de água. Em seguida, formas de metal foram instaladas como uma
forma de molde, dando forma ao concreto injetado atrás delas. Toda a água
escoada tem um destino, usinas de tratamento foram instaladas em cada base
desaguando em rios vizinhos.
Previsto para durar um século, o
túnel é considerado a obra do século por alguns, com certeza uma grande obra e
um grande desafio superado pela engenharia, são através de desafios como esse
que surgem as inovações. As pessoas que antes enfrentavam horas em
congestionamentos, hoje tem a possibilidade de chegar ao mesmo destino com 2h
de viagem, através de trens que se locomovem a 240 km/h.