E se sua obra fosse viva? E se houvesse uma maneira de construir algo que se adaptasse ao habitat onde foi colocado como se sempre pertencesse a ele? E se sua obra se regenerasse sem necessidade de manutenção humana? Parece algo futurista, mas a técnica já tem mais de 2000 anos.
A Engenharia Natural, ou Bio Soil Engineering, consiste, basicamente, no uso de matéria viva como elemento estrutural, tal qual o aço ou o concreto em obras tradicionais.
Acompanhada ou não por estrutura auxiliar de material inerte, suas obras estão atreladas ao crescimento de plantas para atingir seu máximo potencial de sustentação. Por grande parte das vezes, a estrutura auxiliar é até descartada ou abandonada, no caso de biodegradável, quando as plantas já estão fortes o bastante para assumir o papel de estrutura principal. Dentre os materiais inertes mais comuns estão a madeira e pedra.
Aplicada na contenção de taludes ou encostas de corpos d'água, a técnica é dotada de alta velocidade de execução, baixa exigência de qualidade da mão-de-obra e eficácia semelhante a qualquer outra obra convencional de engenharia. Além desses pontos, as obras de engenharia natural exigem menos maquinário pesado que as obras convencionais, se tornando uma opção viável para situações onde o peso de grandes veículos pode comprometer a configuração do solo. Mesmo com tudo isso, o grande foco da Engenharia Natural é produzir uma estrutura integrada ao meio ambiente onde está inserida. Por conta de usar plantas adaptadas ao local, uma obra pronta é quase indistinguível.
Trata-se não só de um trabalho típico de engenharia, mas de uma modelagem de ecossistema. Sua utilidade para controle de erosão e a estabilização da condição hidráulica de canais e rios abertos também são vantagens de obras onde a Engenharia Natural é aplicada.
Agora considere que pode-se usar plantas nativas em sua obra, e consegue-se, além de uma melhor adaptação, uma redução significativa de custos e aumento de longevidade. Outros pontos que abaixam o custo de uma obra em Engenharia Natural é a menor dependência de maquinário pesado e a capacidade das plantas de se regenerarem e se reproduzirem. No fim das contas, pode-se fechar uma obra de forma bem mais consciente, integrada e eficiente mesmo pagando menos.
Contudo, a técnica não pode ser usada para todas as ocasiões. Em casos onde se precisa de alta capacidade de carga e onde o solo não favorece o crescimento de plantas se tem dificuldade de aplicar Engenharia Natural. Além disso, ela ainda se encontra em estado muito empírico de conhecimento e, apesar de ser muito utilizada na Suíça e Alemanha, não é tão popular nas empresas de geotecnia brasileiras.
Vale também destacar a dependência da obra com o crescimento das plantas. Além de solo propício, também é importante que não haja excesso de tensões que arranquem as mudas de seus locais, como uma corrente fluvial muito forte. É nesse tipo de situação que se usa estruturas auxiliares inertes.
Este é um campo que vem ganhando corpo no meio acadêmico. Universidades como a UFES e UFSM já tem pesquisas nessa área a algum tempo. Até a UFPR está nessa.
Pesquisa a pesquisa, o ramo vem ganhando espaço no Brasil. Algumas construtoras e consultoras como LAP Sul ® , CONSPIZZA ® , LIS ambiental ® , ROANI ® e REAL Engenharia ® já trabalham com a Engenharia Natural. Até mesmo a Petrobrás vem usando a técnica para tratamento de corpos d'agua e estabilização de encostas.
Se busca uma aposta para o futuro da Engenharia Geotécnica, pode encontrar a resposta 2000 anos no passado.