segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012


Abraço histórico


Para não interferir em patrimônio tombado, edifício vence vão de 44,4 m com viga protendida


Dividido em três módulos, o Brookfield Malzoni tem um bloco de 12 andares sobre um vão de 44,4 m e 30 m de altura
Em plena avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo, um terreno de 20 mil m² mantém uma casa bandeirista, tombada em 1982 pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) e que preserva o estilo de vida dos primeiros paulistas. A área da casa, 10 m de raio a partir dos limites da construção, inscreve uma área de 2 mil m² que não poderia ser tocada. Como conciliar isso com um moderno edifício comercial de grandes lajes?
           
O Brookfield Malzoni, projeto do arquiteto Marc Rubin, vence 44,4 m de vão entre dois blocos, abarcando o imóvel histórico que precisava ser preservado. Acima do vão, sobem 12 andares no chamado bloco de transição, que liga as duas extremidades.
"De qualquer forma seria necessário vencer o vão", conta o arquiteto. "Poderíamos ter abaixado a laje central, mas, deliberadamente, resolvemos aumentar a altura para dar a proporção que o vão tem hoje, valorizando esteticamente o conjunto e criando uma ligação visual no eixo da Faria Lima com a casa", explica.
      
Foram feitas quatro vigas com 700 m³ de concreto cada, sustentadas por oito pilares com 30 m de altura acima do nível do solo para os 12 andares de edificação.
No projeto, foram estudadas diversas soluções. Uma das possibilidades seria a execução de vigas metálicas. Por questões logísticas, a solução foi inviabilizada, pois seria necessário interditar quatro faixas da avenida Brigadeiro Faria Lima por 21 dias para o lançamento das vigas - isso no melhor cronograma, sem imprevistos. A estrutura também ficaria mais pesada e mais cara. Outra opção teria sido o escoramento metálico com treliças presas nos pilares, também descartada por problemas de montagem. No final, a opção que se mostrou viável foi o escoramento desde o sexto subsolo até a altura do nono pavimento (em relação ao solo), ou seja, 20 m abaixo do solo e 30 m acima.
       
A área do terreno tem formato de "U", cercando a área tombada. Os blocos de garagem A1 e B1 se situam nas extremidades do terreno, e os blocos de 19 andares A e B ficam acima de cada bloco de garagem correspondente, ligados pelo bloco C de transição. A ligação é feita no nono andar, e entre todos os blocos há uma junta de dilatação (quatro juntas no total).

A própria casa bandeirista também passou por uma reforma sob a responsabilidade da construtora, e executada por uma empresa especializada em restauro (leia boxe). A partir de arquivos originais que mostram a casa no século XVIII, um projeto de restauro foi elaborado, recuperando-se praticamente toda a casa que se encontrava em ruínas.