quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Dar o destino correto para resíduos da construção civil é obrigatório


Grande parte dos entulhos da construção
pode e deve ser reciclada



Menos difundida que a reciclagem de resíduos domésticos, a de resíduos da construção civil é essencial para evitar que restos de concreto, tijolos, madeira e metal sejam destinados de forma incorreta e acabem por prejudicar a natureza. Enquanto o reaproveitamento de materiais como papel, garrafas pet e alumínio atinge altos níveis no Brasil, o de resíduos de obras, responsáveis por 54% do volume total de resíduos sólidos gerados no país, deixa muito a desejar. Dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abralpe) mostram que apenas 5% destes resíduos são reciclados, enquanto na Europa essa porcentagem chega a 95%.


A prática de reaproveitar o material descartado na construção civil passou a ser obrigatória no Brasil a partir da aprovação, em 2 de agosto de 2010, da lei que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). A lei tramitou por 21 anos no Congresso Nacional e, ao ser efetivada, incentiva cooperativas de catadores e distingue resíduo de rejeito, sendo o primeiro passível de reaproveitamento e o segundo não. Além disso, a Política criminaliza lixões a céu aberto e permite que apenas rejeitos e lixo orgânico sejam destinados a aterros.


Assim, as construtoras estão tendo que se adequar às novas regras antes que a fiscalização comece. Os resíduos são levados em caçambas a empresas especializadas que fazem a reciclagem. “Além de serem materiais pesados, a reciclagem dificilmente pode ser feita nas construtoras porque as máquinas que transformam os resíduos são muito caras”, explica o diretor da Nakid Construções, Nelson Nakid, que passou a mandar o que é descartado nas construções para a reciclagem por causa da PNRS.



Os resíduos de construção civil são divididos em quatro categorias. A primeira abrange restos de concreto, tijolos e caliça em geral, os materiais mais nobres entre os restos de construção. Eles são transformados por um britador e geram pedras de diferentes granulometrias: rachão, areia, pedrisco e pedra brita. Da segunda classe fazem parte papelão, papel e plástico, que são destinados a pequenos recicladores; madeira, que é picada e usada para alimentar fornos de cerâmicas e ferro de armações, que é conduzido a empresas que o reutilizam. Já o gesso e demais rejeitos fazem parte da terceira categoria, não podem ser reaproveitados e por isso são incinerados ou vão para aterros adequados. A quarta classe é formada por tinta, solventes e materiais perigosos, que são descartados adequadamente a fim de não prejudicar o meio ambiente nem contaminar outros resíduos ou pessoas.


A reciclagem impede que mais material seja retirado da natureza para servir de matéria-prima para as obras e também ajuda a diminuir alguns custos. “As pedras ou argamassa pré-fabricada geradas a partir de materiais reciclados saem por um preço menor do que o de produtos tradicionais do mercado”, conta Thiago Zandoná, engenheiro ambiental da Usina de Recicláveis Sólidos do Paraná (Usipar), empresa que recebe de 30 a 40 caçambas de resíduos de construção por dia para reciclagem. Além disso, a madeira que é queimada nos fornos, por exemplo, pode ser trocada ou render um desconto na compra de tijolos.


Resíduos sólidos no centro da mesa

Como a aprovação da lei ainda é recente, a questão da obrigatoriedade da reciclagem dos resíduos sólidos é um grande campo para discussão e troca de ideias e experiências. A Feira Internacional de Resíduos Sólidos - Brazil Waste Summit será realizada de 21 a 23 de novembro no Expotrade Convention Center e busca, através de debates sobre o tema, contribuir para uma melhor elaboração, desenvolvimento e gerenciamento dos planos municipais que estão sendo feitos pelas prefeituras para a adequação à PNRS.


O evento reunirá as principais tecnologias e modelos de gestão de resíduos de países da Europa, Ásia e América e soluções e equipamentos para os setores que produzem resíduos, empresas públicas e governos municipais. Carlos Garcez do Nascimento, presidente do Instituto Brasileiro para o Desenvolvimnto Sustentável (IBDS) - órgão que promove a Feira - considera importante a participação de todos os atores sociais envolvidos. “O fabricante, o varejista, o construtor, consumidor final e todos o que estão ligados à questão são solidariamente responsáveis pela destinação correta. Por isso o trabalho de diálogo entre eles é tão importante”, explica.