Por Stephanie Martins
A COP 26 - Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas - que ocorreu entre os dias 1 e 12 de novembro de 2021, na Escócia, trouxe como pauta uma necessidade já abordada na COP 21 - a rápida redução nas emissões de carbono, almejando chegar a 45% de redução em 2030 (tendo como referência os patamares de 2010). Além disso, ficou prevista a neutralidade das emissões globais até 2050, o que significa que emissões adicionais a partir dessa data deverão ser compensadas por mecanismos de captura de carbono.
Tendo em vista essa conferência, é possível perceber como nos dias de hoje é impossível imaginar qualquer tipo de projeto ou ação e, junto a isso, não pensar sobre seu impacto no meio ambiente. Gradativamente, a sustentabilidade vem ganhando mais espaço e, nesse contexto, não poderia ser diferente com o setor da construção civil, visto que o concreto é um dos materiais mais utilizados nesse setor e, também, um dos maiores emissores de gás carbônico no mundo. Essa alta emissão se deve a um de seus componentes – o cimento.
Segundo a GCCA (Global Cement and Concrete Association), a produção de cimento gera cerca de 7% das emissões globais de dióxido de carbono (CO2), três vezes mais do que o tráfego aéreo. Outro dado comparativo interessante é o de que se a indústria de cimento fosse um país, seria o terceiro maior emissor desse gás no mundo, atrás apenas da China e Estados Unidos.
Diante desses dados alarmantes e do panorama das mudanças climáticas, a busca por um concreto que reduza os impactos na natureza não só é importante como também é extremamente necessária. Atualmente, o concreto sustentável vem ganhando notoriedade exatamente por conseguir obter resultados satisfatórios nesse quesito.
O cimento e as emissões de CO2
A produção de cimento envolve a
extração e o esmagamento de calcário e argila. Essas matérias-primas são então trituradas
e misturadas com outros materiais como minério de ferro ou cinzas e, na etapa
seguinte, introduzidas em grandes fornos cilíndricos e aquecidas a cerca de
1.450 °C. Neles, ocorre a reação química de decomposição térmica – conhecida
como calcinação – que transforma o calcário em óxido de cálcio e CO2.
Esse processo dá origem a uma nova substância, chamada clínquer. Trata-se não só do principal componente do cimento, mas do material cuja produção emite a maior quantidade de CO2 nessa indústria.
No formato de pequenos grãos com tonalidade acinzentada, o clínquer é resfriado, moído e misturado com gesso e calcário. Em seguida, pode ser transportado para fabricantes de concreto.
Concreto usual X concreto sustentável
Produzido a partir de materiais
reaproveitados, o concreto sustentável substitui a areia, a brita e água por
materiais que são totalmente reaproveitados. Ele tem como objetivo
principal reutilizar os materiais que são descartados na construção
civil. Além disso, há uma considerável redução do consumo de água, o que
possibilita uma economia de quase 100% dos recursos naturais.
Em sua composição, o concreto sustentável
pode conter tanto materiais recicláveis quanto materiais naturais como, por
exemplo, areia reaproveitada de fundição, casca de arroz, plástico, fibras de
vidro, pneu e fibra de têxtil.
Na produção do concreto convencional
são utilizados materiais como brita, cimento, areia e outros aditivos. Já
na produção do concreto sustentável, esses resíduos sólidos são substituídos
por materiais recicláveis que são misturados e triturados até que se
obtenha o resultado de um bloco compacto.
Embora o concreto sustentável
apresente inúmeros benefícios, ele não é tão resistente quanto o concreto
convencional. Portanto, não poder ser utilizado para fins estruturais. Ele
deve ser utilizado em locais onde ocorre baixo impacto, como calçadas,
pavimentação de ruas, contrapisos que não necessitam de uma resistência tão
elevada como a construção de uma casa ou edifício, por exemplo.
O concreto sustentável pode ter vários custos, mas em geral o concreto reciclado tende a ter um preço menor do que o tradicional. Isso porque a própria indústria economiza ao usar materiais reciclados, por dois motivos: porque eles são mais baratos, já que as fábricas que os doam ou vendem iriam jogá-los fora inicialmente e, porque ela deixa de gastar dinheiro no descarte dos resíduos dos agregados tradicionais - que é um processo pago.
Tipos de concreto sustentável
O concreto sustentável pode então ser
um concreto com menor quantidade de cimento em sua composição. Para
isso, ele pode ter, por exemplo, agregados maiores, que deixem a quantidade de
espaço entre eles, a ser preenchida com cimento, menor. Ademais, pode ter o
cimento substituído por outro material, de menor impacto ambiental.
O outro tipo de concreto sustentável é o chamado “concreto reciclado”. Nessa opção, os agregados não são a brita e a areia comuns, e sim materiais reciclados, como areia reaproveitada de fundição (escória), a sílica da casca de arroz ou pneus velho triturados, por exemplo. Assim se reduz a quantidade de lixo despejado na natureza, que é o que esses materiais se tornariam se não fossem reutilizados.
A preocupação com o meio ambiente é uma tendência crescente nos dias de hoje diante do cenário climático mundial. Por isso, cada vez mais estão sendo buscadas maneiras de reduzir os impactos do setor da construção civil na natureza. Prova disso é o crescente leque de opções de concreto sustentável atualmente sendo utilizados e desenvolvidos com esse intuito.
Referências:
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