Por João Antonio Comine da Silva
O universo dos jogos de azar
Os
jogos de azar e jogos que envolvam sorte no geral estão presentes em nossa
sociedade desde sua criação, porém com a evolução humana esses jogos também
foram se adaptando e evoluindo, e como tudo que envolve qualquer capital sempre
desperta o interesse humano já era de se esperar que alguém tentasse criar
alguma forma de vantagem, portanto, conseguir ganhar mais dinheiro.
Inicialmente essas pessoas que tentavam tirar vantagem eram apenas alguns
pessoas que utilizavam de trapaças sutis e arcaicas, porém com a criação dos
grandes cassinos e da legalização dos jogos de azar as quantidades de dinheiro
se tornaram muito maiores, sendo assim as pessoas que quiseram tirar vantagem
dele também aumentaram, e isso se tornou um mercado, com uma segurança extremamente
rígida a fim de afastar esses trapaceiros.
Fichas de cassino
Fonte: Cassino Alto
E
com cifras que em 2019 só nos Estados Unidos, país com o maior mercado de jogos
do gênero, bateu a casa dos 500 bilhões de dólares, com uma segurança extrema
as formas de trapaça tiveram que se tornar cada vez mais sutis e discretas, a
fim de não levantar suspeitas dentro dos cassinos, e para um pequeno grupo de
engenhosos a forma mais discretas de se realizar essas trapaça foi aplicando
conhecimentos avançados de probabilidade e física.
Edward Thorp
e o blackjack
O
blackjack é um jogo de cartas jogado nos cassinos, onde os jogadores apostam
contra a banca que representa o cassino, cada carta vale uma quantidade de
pontos expressa pelo número dela, temos também o Valete (J), Dama (Q) e o Rei
(K) que valem 10 pontos cada, além disso, temos o Às (A), que vale uma
pontuação entre 1 e 11 dependendo da vontade do jogador, o objetivo do jogo é
chegar o mais próximo dos 21 pontos, sem que ultrapasse eles, caso ultrapasse você
é automaticamente eliminado, chamado de estourar. O ganhador recebe da banca o
mesmo valor que apostou.
Combinação de 21 formada por uma Às (A) e um
Reis (K)
Fonte: Aposta Esportiva Bonus
O primeiro a encontrar uma grande oportunidade
de utilizar os conhecimentos matemáticos no mundo dos jogos de azar, foi o
americano Edward Thorp, que nos anos de 1960, quando professor de matemática do
Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) viu a possibilidade em usar seus
conhecimentos no jogo de carta que talvez seja o mais simples dos que são
jogados no cassino, o blackjack.
Thorp criou um raciocínio matemático onde ele
contava as cartas que eram colocadas na mesa, com uma lógica de que quanto mais
cartas de valor alto restavam no baralho, maior era a chance dele ganhar, pois
quanto mais cartas de valor maior era a probabilidade de que os demais
jogadores ultrapassem o limite de 21 pontos, logo, não necessariamente ele
teria que conseguir os 21 pontos, mas sim uma pontuação segura entre 17 e 21
pontos, forçando todos da mesa comprarem mais cartas e correrem o risco
estourar.
Com esse estilo de jogo ele conseguia cerca de
4% a mais de vantagem sobre a banca, pode parecer pouco, porém com isso ele conseguiu
acumular uma quantia de 25 mil dólares, o que hoje representaria 250 mil
dólares hoje (cerca de 1 milhão de reais), com isso diversos cassinos do Texas
começaram a proibir a entrada dele e até sofrer ameaças. Posteriormente ele
parou de frequentar os cassinos e se aventurando em Wall Street, ele relata
todo este processo de forma detalhada em sua autobiografia “Um homem para todos
os mercados: conseguindo o improvável, de Las Vegas a Wall Street”.
Quebrando a
banca
Depois
do método de Thorp ficar conhecido pelos grandes cassinos no mundo, os
seguranças logo começaram a reconhecer pessoas que contavam cartas e começaram
a expulsá-los, fazendo com que o método parasse de ser usado pelos jogadores.
Com isso, um grupo de estudantes de matemática do MIT desenvolveu uma nova
forma de contagem, muito mais avançada e elaborada, e com resultados muito mais
significativos.
Para despistar os seguranças eles entravam
separados e disfarçados, um integrante do grupo escolhia uma mesa qualquer, e
começava a marcar os quatro Às do baralho, para isso essa pessoa realizava
diversas apostas baixas, esperando o momento em que eles estivessem em uma
determinada posição no baralho, quando este momento chegava era dado um sinal a
um segundo integrante, que entrava no jogo e começava a contar as cartas,
esperando um dos Às sair em sua mão e uma grande quantidade de cartas altas
ainda estivesse no baralho, com isso ele conseguia sair com a pontuação
necessária para ganhar o jogo, sendo formada por um Às e outra carta que
valeria 10 pontos, quando um jogador sai com essa combinação de cartas a banca
paga 1,5 vezes o valor apostado.
Imagem do filme "Quebrando a banca”
Fonte: Adoro Cinema
Este novo estilo de jogo proporcionava ao grupo
uma vantagem de 40% em cima da banca, muito maior do que usando a fórmula de
contagem de Thorp, um dos integrantes do grupo chamado Jeffrey Ma, relatou toda
a história em um livro chamado “Bringing Down the House” (na versão em
português, “Quebrando a banca”) que inspirou um filme de mesmo nome, nele Ma
relata que teria faturado mais de US$ 5 milhões, o que equivaleria a 10 milhões
atualmente (aproximadamente 50 milhões de reais).
O Dominador
Mesmo
tendo uma vida estável Dominic LoRiggio, dono de uma pequena empresa de
softwares decidiu se aventura na mesa de dados dos cassinos texanos após
descobrir que um engenheiro chamado Chris Paulicky estudou a física que
envolvia os dados, com isso Paulicky conseguia aumentar a probabilidade com que
os dados dessem o resultado que ele queria, o engenheiro realizava curso
ensinando essa técnica a qualquer pessoa que quisesse aprender, então LoRoggio
se interessou em aprender esta técnica.
Explicando
um pouco sobre como funciona a mesa de dados, o jogador lança dois dados, se a
soma deles for 7 ou 11, ele ganha, se a soma for 2, 3 ou 12, ele perde. Saindo
qualquer outro resultado, o jogador pode repetir a aposta e caso ele consiga
repetir duas vezes a mesma soma, ele também ganha. (7 e 7, por exemplo).
Mesa de dedos
Fonte: Adoro Cinema
Após aprender o método e treinar durante meses,
ele conseguiu aperfeiçoar o método de lançamento de dados, sendo capaz de
conseguir uma constância de vitórias que a maioria dos cassinos foram obrigados
a expulsá-lo para conter os prejuízos. Apesar da forma com que os jogadores
lançam os dados não é regulada pelos cassinos, LoRoggio causou tamanho prejuízo
com uma técnica tão complexa e específica que muitos consideram irreplicável,
por isso o jogador foi banido e não a forma como ele joga, muitos aventureiros
tentar replicar a sua jogada, porém não obtêm resultados nem próximos de
LoRiggio.
Ele ficou conhecido como como “O Dominador”,
pois como ele disse “Os dados, e portanto o jogo, estão inteiramente na sua
mão. Não é como no vinte-e-um, em que você pode ter uma vantagem matemática,
mas ainda depende das cartas.”, ou seja ele dominava os cassinos na mesa de
dados. Ele continua a frequentar os cassinos nos quais ele ainda não foi banido
até hoje, e constantemente impõe prejuízos à eles.
O combate
aos jogadores
Os
cassinos por sua vez, para combater essas práticas, desenvolveu diversas
práticas e ensinou aos seguranças dos cassinos a identificarem possíveis
jogadores que estejam tirando vantagem das casas de apostas. Mas a maior
revolução contra essas práticas veio com o sistema integrado de reconhecimento
câmeras e facial, iniciado em Las Vegas, onde empresas de segurança
compartilham entre si possíveis suspeitos, a fim de que caçá-lo mesmo este
mudando de cassino diversas vezes para não ser facilmente reconhecido pelos
seguranças.
Cada cassino tem em média 2 mil câmeras, num
sistema que é conhecido como eyes in the sky (em portugues, “olhos no céu”).
Este sistema procura enquadrar e reconhecer a imagem de todas as pessoas que
passam pelo cassino, onde é possível passar mais de 10 mil pessoas por dia. E
utilizando do método de compartilhamento de dados é criado uma “lista negra”
dos jogadores problemáticos para os cassinos. O sistema de reconhecimento
facial se aperfeiçoou tanto nesta indústria, que ele é capaz de reconhecer os
jogadores mesmo disfarçados ou após envelhecerem durante anos.
Por mais que muitas destas práticas não sejam
consideradas crimes, os cassinos impedem com que esses jogadores frequentem
suas casas de apostas, pois essas instituições não são nem um pouco fãs de
perder dinheiro no seu próprio jogo.
Referências:
ARAÚJO,
Tarso. Quebrando a banca – os
golpes mais inacreditáveis do mundo: a verdadeira história dos golpes mais
incríveis já inventados para roubar dinheiro dos cassinos. A verdadeira
história dos golpes mais incríveis já inventados para roubar dinheiro dos
cassinos. 2016. Disponível em: https://super-abril-com-br.cdn.ampproject.org/v/s/super.abril.com.br/comportamento/quebrando-a-banca-os-golpes-mais-inacreditaveis-do-mundo/amp/?usqp=mq331AQFKAGwASA%3D&_js_v=0.1#aoh=15978938801616&referrer=https%3A%2F%2Fwww.google.com&_tf=Fonte%3A%20%251%24s&share=https%3A%2F%2Fsuper.abril.com.br%2Fcomportamento%2Fquebrando-a-banca-os-golpes-mais-inacreditaveis-do-mundo%2Famp%2F%23aoh%3D15978938801616%26referrer%3Dhttps%253A%252F%252Fwww.google.com%26amp_tf%3DFonte%253A%2520%25251%2524s.
Acesso em: 23 ago. 2020.
BBC BRASIL
(Brasil). O matemático que criou
uma fórmula para vencer os cassinos – e agora aplica sua técnica em
investimentos. 2017. Disponível em:
https://www-bbc-com.cdn.ampproject.org/v/s/www.bbc.com/portuguese/
amp/geral-40199162?usqp=mq331AQFKAGwASA%3D&_js_v=0.1#aoh=15978927411021&_ct=1597892771877&referrer=https%3A%2F%2Fwww.google.com&_tf=Fonte%3A%20%251%24s.
Acesso em: 23 ago. 2020.
REDAÇÃO
BRASILTURIS JORNAL (Brasil). Jogos
de azar já movimentam R$ 34,1 bilhões por ano. Disponível em:
https://brasilturis.com.br/jogos-de-azar-ja-movimentam-r-341-bilhoes-por-ano/.
Acesso em: 23 ago. 2020.