terça-feira, 5 de abril de 2016

A construção no Brasil antes de Dom Pedro I

Cavar fundações, concretar fundações. Montar caixaria, colocar armadura, concretar a caixa. Empilhar tijolos, cobrir tijolos, pintar. Mesmo que superficialmente, a maior parte das pessoas sabe como se dá uma obra residencial no Brasil hoje, mas como eram as obras no século 16? Cabral teve uma casa de tijolos? A capitania de São Vicente, atual São Paulo, era feita do que?
Ai vão algumas das técnicas mais comuns de construção:

Alvenaria estrutural


Apesar de a técnica se manter até hoje, a alvenaria estrutural é quase tão antiga quanto a humanidade. As piramides do Egito, os zigurates Babilônicos e as obras do Império Romano eram todas obras feitas em alvenaria estrutural. A técnica consiste, basicamente, em blocos de construção unidos por argamassa para consolidar paredes ou pilastras. A técnica tem algumas limitações, como a necessidade de se usar arcos para se vencer vãos, diferente das vigas, que podem vencer vãos com pórticos. A técnica era usada apenas em obras do Estado ou da igreja, dado o seu preço elevado. Se você entrar numa igreja antiga, vai notar que todos os vãos são vencidos por arcos.


Parede de adobe

Essa técnica pode ser enquadrada como Alvenaria Estrutural, mas era mais comum entre para divisórias interiores de edificações. Os blocos, ou lajotas, tinham medidas de 20 x 20 x 40 e eram feitos com uma mistura controlada de argila e areia e assentados com barro entre eles. Por vezes recebiam revestimento de argamassa de cal e areia, para melhorar o conforto térmico e sonoro. Hoje em dias, algumas comunidades carentes ainda usam a técnica para construção de moradias. 




Em fortificação, igrejas e edificações do estado, se substituía os blocos por pedras lascadas. Uma das construções europeias mais antigas do Brasil, Torre de Duarte Coelho, em Olinda, foi feita nesta técnica.


Os tipos de pedras eram bem variados. Os mais comuns eram calcários, arenitos ou pedra de rio e granitos , no Rio de Janeiro, e mesmo a pedra-sabão e a canga, em Minas. A argamassa poderia ser a mesma, de cal e areia, ou de barro, mais fraca. Pedras menores eram colocadas para calçar as maiores.

Na alvenaria de pedra seca, é dispensada a argamassa e eram assentadas com a ajuda de formas de madeira. Esta técnica é mais utilizada para muros exteriores. As pedras de mão, maiores, contornadas por pedras menores recebe o nome de cangicado.


 

Canjicado

Quando as pedras eram chapadas de forma a se encaixarem umas nas outras, se tinha alvenaria de cantaria.


Taipa de Pilão

A taipa de pilão foi o material mais empregado nas construções coloniais no Brasil, devido principalmente à abundância de matéria prima – o barro vermelho. Também apresentava relativa facilidade de execução, satisfatória durabilidade e às excelentes condições de proteção que oferece quando recebem manutenção adequada. É uma técnica praticada pelos portugueses e espanhóis a mais tempo do que se tem registrado, conhecida também pelos povos africanos. Era de uso comum na Europa, até meados do século XIX. Na França recebia o nome de pisé.



Consiste em amassar com um pilão o barro colocado em formas de madeira, os taipais, semelhantes às formas de concreto utilizadas hoje. Os taipais têm somente os elementos laterais, e são estruturados por tábuas e montantes de madeira, fixados por meio de cunhas, em baixo, e um torniquete em cima. Suas dimensões são de aproximadamente 1,0 m de altura por 3,0 a 4,0 m lateralmente, e têm a espessura final da parede, 0,6 m a 1 m. Após a secagem, o taipal é desmontado e deslocado para a posição vizinha. E assim a obra tinha continuidade. 





Os critérios de escolha do barro variavam entre a tradição oral e ficou perdida no tempo. Sabe-se que, semelhante ao adobe, deve ser uma mistura bem dosada de argila e areia e alguma fibra vegetal, crina de animal ou mesmo estrume. Podia-se também misturar óleo de baleia, que supostamente aumentavam a resistência. O barro é colocado em pequenas quantidades, em camadas sucessivas de aproximadamente 20 cm, que se reduzem a 10 ou 15 cm depois de apiloadas.

A massa passava por um processo semelhante a hidratação durante 4 a 6 meses. Ao final do processo, as paredes poderiam receber revestimento, geralmente argamassa de cal e areia, que lhe aumentava a resistência. A esta argamassa era, às vezes acrescentada estrume bovino. O resultado era uma argamassa capaz de resistir “à mais forte e duradoura chuva”. Beirais de alvenaria de pedra eram usadas para proteger as paredes, que não eram muito resistentes a chuva. Paulo Santos nos fala de “uma construção existente em Cabo Frio, datando de pelo menos três séculos”, de taipa de pilão, cuja resistência é tão grande, “a ponto de se assemelhar ao nosso concreto”. Uma variante do sistema, chamado formigão, consiste em misturar à massa de barro pedras miúdas e pedras maiores (pedras de mão), mistura semelhante ao concreto.

A taipa de pilão foi mais utilizada nas regiões de São Paulo e Goiás. Em Minas, a encontramos em igrejas mais antigas e em residências. Nas cadeias, quando não era possível sua execução com pedra e cal, a taipa era reforçada com engradamento de madeira, nas paredes e nos pisos.


Taipa de pilão reforçada com madeira, utilizada nas cadeias. Fonte BARRETO, P. T. “Casas de câmara e cadeia” In: Arquitetura Oficial I.

Pau a pique

A técnica constitui-se de uma armação de madeira coberta por barro e argila. Era comumente chamada de Pau-a-pique, taipa de sebe, taipa de mão, barro armado ou taipa de sopapo. Tinha um custo bem baixo, uma resistência satisfatória e era bem durável 




A edificação contava com um sistema de fundação simplificado com vigas baldrame e estacadas de toras, chamadas "nabos". 


Diversas igrejas de Minas foram construídas por esta técnica: Santa Rita e Nossa Senhora do Ó, em Sabará, Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Catas Altas, Nossa Senhora das Mercês, em Mariana, Nossa Senhora das Mercês e Perdões em Ouro Preto

Enxaimel e Tabique

Semelhante ao atual WoodFrame ou dry-wall, estas técnicas usam uma estrutura de madeira revestida para vedação de ambientes. O Enxaimel tem lajotas de adobe entre as barras de madeira para revesti-la e pode ou não ser coberta por argamassa de cal. Era o ideal para coberturas externas. 



Enxaimel Tabique


O Tabique contava com placas de madeira envolvendo a estrutura de barras de mesmo material. Dado a sua maior fragilidade e durabilidade, era mais comum em ambientes internos. 


Planta da matriz de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto com as divisórias da nave construídas em tabique. Imagem SANTOS, 1951

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